quarta-feira, 23 de abril de 2014

Crônica

O sofá  amarelo

Cesar Cabral*

Era uma vez, numa aldeia bem longe daqui, um homem admirado por todos graças a sua coragem e inteligência. Além disso, ele era casado com a mulher mais linda da aldeia e tinha um belo sofá amarelo na sala. Certa vez, enquanto ele trabalhava no campo lavrando a terra a mulher dele encontra, por acaso, na feira da aldeia, um belo rapaz. Eles trocam olhares e sentem que um furioso amor lhes toca o coração. O rapaz que estava de passagem resolve ficar na aldeia para estar mais perto daquela mulher que o deixara com uma devastadora sensação de um arrasador, digamos, ardor interior.
O rapaz era ferreiro, um bom ferreiro, e malhando o ferro ardente, em brasa, fazia diversas coisas úteis que agradavam a todos, sobretudo as mulheres com os objetos de cozinha que
fazia com tanto zelo. Certa vez a linda e sedutora mulher do lavrador que se orgulhava de seu sofá amarelo, procurou o rapaz na ferraria para fazer-lhe uma encomenda.
O momento do encontro foi quase delirante. O coração de ambos ardia como a fornalha onde ele colocava seus ferros em brasa. Abraçaram-se, beijaram-se e ela convidou o jovem para ir até a casa dela no dia seguinte, ao meio dia, assim que ela voltasse do campo para onde ela levava diariamente o almoço do marido que lá permanecia do amanhecer ao por do sol.
Assim os amantes se amavam todos os dias no sofá amarelo da sala sem nenhuma preocupação de serem surpreendidos com o marido traído, mas sempre alegre.
Um dia pouco depois do almoço o lavrador resolveu voltar para casa; nunca se soube o motivo. Ao abrir a porta encontrou sua bela mulher fazendo amor com o jovem ferreiro justo sobre seu sofá amarelo. Furioso, amaldiçoou os dois. O rapaz fugiu pela janela. A mulher gritou: “não é bem isso que você está vendo!”.
Amargurado, inseguro, sentindo-se ameaçado, sem câmeras de vigilância, resolveu adotar a melhor medida de proteção; de assegurar que sua honra não fosse nunca mais posta em risco.
Decidido, seguro de si, confiando que, com a atitude que estava prestes a tomar, ninguém mais entraria naquela casa na ausência dele e fizesse com sua bela mulher o que tantas e tantas vezes fizeram, ela e o jovem ferreiro da aldeia.
Tomado pelo ódio, sentiu crescendo dentro dele uma enorme dilma russefe com unhas pontiagudas postiças que rasgavam seu coração. Tomou seu sofá amarelo sobre os ombros, levou-o até o campo em local bem distante e ateou fogo no culpado de sua desgraça.
Depois, aliviado e purificado, voltou para casa e para sua bela mulher.
Em outra aldeia, do outro lado do oceano, distante daquela do inteligente homem do sofá amarelo, uma lei acaba de proibir o uso de bonés em lugares públicos. A arguciosa medida é para facilitar a identificação de assaltantes. Nesse caso os bonés não são necessariamente apenas os de cor amarelo.
Eu, que moro orgulhosamente – ainda seremos os primeirões - na 7ª cidade mais violenta do planeta, segundo a ONU, sugiro também a proibição do uso capacetes aos motociclistas para melhor identificar matadores de aluguel, assassinos e ladrões; ou ambos. Caso a medida não surta efeito,  recomendo a sumaria proibição da produção, comercialização e uso de motocicletas; não apenas as amarelas, mas as de qualquer cor. Nessa mesma aldeia, aquela que quer por que quer ser chamada de presidenta porque já foi estudanta e adolescenta, começou a ficar meio amarelenta; e bate boca, como uma maloqueira, com
seus companheiros ex-camaradas de uma petroleira sobre um negocio que amarelou. Logo serão inimigos desde criancinha. A coisa tá preta! Da cor do petróleo. Talvez a solução para resolver o intrincado negócio será tocar fogo em todos os sofás – sejam eles lá de que cores forem – do gabinete da presidenta da petroleira. Graça de nome, apenas, ao contrário do que se vê. E muito, muito aquém da bela mulher do homem que resolveu seu maior problema queimando o sofá amarelo.
E o ferreiro? Bem o ferreiro continuou malhando o ferro e recebendo novas encomendas da bela agradecida.

*Jornalista e Escritor

Nenhum comentário:

Postar um comentário