quarta-feira, 26 de março de 2014

Comentário

Muito além do sonegômetro


André Machado*

Ontem (25/03), escrevi aqui sobre a relação entre o que se arrecada de impostos no Brasil e a contrapartida em serviços públicos. Muita gente sugeriu que eu também abordasse um outro lado da moeda, a sonegação. Coincidentemente, há ótimas reportagens recentes sobre o tema. Eu recomendo, entre tantas, a que li no jornal Valor Econômico.
Conforme dados divulgados na semana passada pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), o Brasil deixou de arrecadar mais de R$ 106 bilhões, por conta da sonegação, só nos primeiros 100 dias de 2014. E faço a mesma pergunta. É muito? Acho que sim. No ano passado, o rombo ficou em R$ 415 bilhões. Mais ou menos o que se arrecadou no primeiro trimestre deste ano.
Numa conta pra lá de arredondada, sem pretensão de entrar no terreno da análise econômica, é como se o Brasil precisasse de um quinto trimestre no ano só para compensar a sonegação.
Também ontem, escrevi que, pior do que o tamanho da carga tributária, só a insuficiência da contrapartida que nos é oferecida por meio de serviços públicos – que precisamos complementar com outros pagamentos à iniciativa privada. Como se fosse uma bitributação. No caso da sonegação, faço mais ou menos o mesmo raciocínio.
Pior do que os gordos bilhões que não entram na receita pública é o desrespeito a todos os empreendedores que arriscam quebrar mas não deixam de pagar seus impostos. Ou com a gente que, como consumidor e assalariado, não tem sequer margem para ginástica e marcha na hora dos descontos em folha e dos tributos pagos na boca do caixa do supermercado.
Quando se fala em redimensionamento da carga tributária brasileira, é preciso que se estabeleçam, simultaneamente, medidas preventivas e políticas de controle e combate à sonegação. Não é justo que a gente deixe boa parte da renda com a necessária mordida do fisco enquanto uns poucos lucram muito deixando de fazer sua contribuição.
Discuta este tema com seus amigos, colegas de trabalho, familiares. Leve o debate para a sua associação , sindicato, partido. E, uma vez feita a sua parte, cobre posições e atitudes dos seus representantes políticos. É assim que a gente muda para melhor.
Aproveite o dia.
*Jornalista


Nenhum comentário:

Postar um comentário