sexta-feira, 14 de março de 2014

Comentário

As palavras sempre são caras

André Machado*

O comediante Rafinha Bastos foi condenado, na última quarta-feira (12/03), a pagar indenização de R$ 150 mil à família da cantora Wanessa Camargo, por conta de uma piada feita no programa CQC, em 2011. Acho que, naquele ano em que talvez vivesse seu auge em termos de popularidade, Bastos perdeu uma boa chance de ficar calado ou usar seu privilegiado espaço midiático com outro tema.
A multa foi exagerada? Pequena? Não sei dizer. A piada, nem vou lembrar aqui, foi de extremo mau gosto, eu penso. E não gostaria de ser alvo de uma brincadeira assim.
A carreira de Bastos mudou bastante depois do episódio. Talvez seu prestígio também. Ele está R$ 150 mil mais pobre ou menos rico, dependendo do ponto de vista. E, sinceramente, não sei o que mudou na vida de Wanessa. Por quê?
O humor não deveria ser território livre? A liberdade de expressão não está garantida por lei?
Sim, mas vamos com calma que a ladeira é forte.
A liberdade de expressão diz respeito à manifestação de ideias, pensamentos, vontades. No momento em que algum receptor dessa informação se sentir ferido, intimamente ou não, é hora de parar. A gente pode contar a piada que quiser, mas nunca sabe se todo mundo vai achar engraçado. Wanessa não achou. A Justiça também não. E agora, provavelmente, nem Bastos.
Pessoalmente, penso que não foi por esta finalidade que se lutou, ainda na ditadura militar, pela liberdade de expressão. Tampouco foi pensando em crimes comuns, como peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha que se garantiu foro privilegiado para políticos, e sim para que pudessem denunciar crimes políticos, tolhimento de direitos civis, ataques à democracia e atrocidades como tortura, sequestro, assassinato. Era a liberdade de defender a vida.
Vulgarizar o exercício de conquistas tão suadas como a prerrogativa da livre expressão de ideias tem um quê de desrespeito coletivo. Não é caretice. Simplesmente me coloco no papel de Bastos, porque também sou comunicador, e de Wanessa, porque também sou um cidadão que pode ser atingido, pessoalmente, por exemplo, por uma piada que não me agrade.
Os ditados não se popularizam por acaso, mas por guardarem em si boa carga de sabedoria. Convém lembrar: a palavra dita não volta para a boca.
Aproveite o dia!

*Jornalista

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