As
palavras sempre são caras
André
Machado*
A multa foi exagerada? Pequena? Não sei dizer. A piada, nem vou
lembrar aqui, foi de extremo mau gosto, eu penso. E não gostaria de ser alvo de
uma brincadeira assim.
A carreira de Bastos mudou bastante depois do episódio. Talvez
seu prestígio também. Ele está R$ 150 mil mais pobre ou menos rico, dependendo
do ponto de vista. E, sinceramente, não sei o que mudou na vida de Wanessa. Por
quê?
O humor não deveria ser território livre? A liberdade de
expressão não está garantida por lei?
Sim, mas vamos com calma que a ladeira é forte.
A liberdade de expressão diz respeito à manifestação de ideias,
pensamentos, vontades. No momento em que algum receptor dessa informação se
sentir ferido, intimamente ou não, é hora de parar. A gente pode contar a piada
que quiser, mas nunca sabe se todo mundo vai achar engraçado. Wanessa não
achou. A Justiça também não. E agora, provavelmente, nem Bastos.
Pessoalmente, penso que não foi por esta finalidade que se
lutou, ainda na ditadura militar, pela liberdade de expressão. Tampouco foi
pensando em crimes comuns, como peculato, lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha que se garantiu foro privilegiado para políticos, e sim para que
pudessem denunciar crimes políticos, tolhimento de direitos civis, ataques à
democracia e atrocidades como tortura, sequestro, assassinato. Era a liberdade
de defender a vida.
Vulgarizar o exercício de conquistas tão suadas como a
prerrogativa da livre expressão de ideias tem um quê de desrespeito coletivo.
Não é caretice. Simplesmente me coloco no papel de Bastos, porque também sou
comunicador, e de Wanessa, porque também sou um cidadão que pode ser atingido,
pessoalmente, por exemplo, por uma piada que não me agrade.
Os ditados não se popularizam por acaso, mas por guardarem em si
boa carga de sabedoria. Convém lembrar: a palavra dita não volta para a boca.
Aproveite o dia!
*Jornalista
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