Aumento
de juros faz com que
acordemos um pouco mais pobres
André
Machado*
A
gente que comemorava tanto a tendência de queda da taxa de juros até outubro do
ano passado enfrenta agora o pesadelo de ver a Selic retornar aos dois dígitos.
É uma barreira psicológica que foi rompida nesta quarta-feira pelo Comitê de
Política Monetária (Copom), mas que nos faz despertar nesta quinta-feira um
pouco mais pobres. E a decisão veio um dia depois de protestos das centrais
sindicais pela redução do juro de olho num maior crescimento. Em nota a Central
dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) classifica o aumento como uma
“péssima notícia para o povo brasileiro”. O texto assinado pela CTB aponta a
estimativa de que a cada ponto percentual na Selic nossa dívida pública aumenta
em R$ 12 bilhões. Isto nos faz acordar hoje devendo mais.
“Em contrapartida, verifica-se o retrocesso da
atividade econômica, com redução do consumo e dos investimentos na produção, e
novos cortes nos gastos públicos justificados pela necessidade de economizar
dinheiro para bancar os serviços da dívida pública (juros e amortizações), cujo
peso cresce com a alta da Selic. O pagamento dos juros já consome cerca de 50%
do Orçamento da União e o dinheiro destinado aos credores é o mesmo que faz
falta na saúde pública, na educação, na Previdência, no transporte e na infraestrutura
em geral”, segue a nota.
A queixa não vem apenas do lado dos trabalhadores. A
Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que a nova taxa irá inibir
investimentos privados. O aumento de meio ponto percentual também foi criticado
pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS) que afirma que a
decisão reduz a possibilidade de investimentos produtivos no Rio Grande do Sul.
As duas entidades defendem redução dos gastos do governo para diminuir a
inflação.
No seu 13º Congresso Nacional, o PCdoB aprovou uma resolução de
promover no país “um novo pacto pela produção e pelo trabalho”. Este pacto deve
envolver governo, trabalhadores e empresários “comprometidos com a produção
nacional”. A garantia de juros mais baixos é uma necessidade. Mesmo quando a
Selic estava mais baixa existiam enormes diferenças entre a taxa básica e a
praticada pelo mercado. Se com juros maiores o setor financeiro acaba lucrando
mais sob a justificativa de controlar a inflação imagine quem perde….
*Jornalista
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