quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Artigo

A penitenciária ao ar livre com liberdade total

Cesar Cabral*

Vulpino Argento o Demente, 4º suplente de senador e que nas horas vagas - são 24 h. vagas por dia – me serve como assessor de pesquisas e de outras buscas descobriu que um bandido drogado assalta pessoas de qualquer idade há 12 anos; é conhecido como Bruxo. Entre os grandes assaltos que ele considera o mais “genial” foi há um médico cardiologista em seu próprio consultório em Fortaleza. O cardiologista quase morre do coração. Em Maceió um motorista de ônibus foi assaltado mais de 15 vezes. Vúlpi, que é como eu o trato carinhosamente, já que ele é demente, descobriu milhares de crimes de todos os tipos ocorridos em apenas um mês, assistindo programas nas TVs, que se dizem “em defesa da cidadania” entrevistando bandidos. Em um desses, o inteligentíssimo reporte com cara de barbaridade pergunta ao bandido que havia assassinado uma velhinha com 5 facadas: “e você não está arrependido”? “Não”! disse o bandido.
Entre os crimes mais comuns estão as “saidinhas” bancárias, um tipo de roubo que a vítima é sempre um idiota que saca R$ 20 mil reais num caixa eletrônico; e há também os assassinatos de viciados em cocaína e craque que não pagam a conta ao traficante fornecedor; assaltos a bancos com explosivos cuja venda e o uso é controlado “rigorosamente” pelo  Exercito Brasileiro, detonando caixas eletrônicas. Há também os “arrastões” – em geral feitos com apenas com um ou dois arrastadores - em ônibus, bares, restaurantes, nas ruas, em lojas, em carros parados nos sinais de transito e centenas de outras modalidades criminosas. É assim Brasil adentro. Porém o que deixou Vúlpi mais indignado foi o assalto a duas mulheres que saiam de um supermercado com sacolas das compras que haviam feito, sobre tudo comida, serem embretadas contra um muro por bandidos a cavalo. Ladrões assaltando a cavalo, ainda que amatungados, em pleno século XXI tornou-se notícia nacional.
- “Coisa de bandoleiro de outro Estado, Divino Mestre (eu detesto quando ele me trata assim) em nosso Ceará não tem mais disso não! Isso é coisa do tempo de Lampião e de Corisco, - disse com a voz bem sotaqueada. O que é que os sudestinos e os sulistas vão pensar de nóis?  - agora bem irritado. Concordei, mesmo sendo eu um sulista.
- Prestenção, Divino Mestre (outra vez!), enquanto isso acontece  o Comandante da PM aconselha: “ não ande com muito dinheiro,as mulé deve portá a borsa na barriga do corpo e bem agarrada,não reaja ao assalto, o bandido não tem nada a perdê,não óie nos óio do bandido, ele vai entendê  que tu tá defiando ele,não faça gesto brusco, ele pode entendê que você vai sacá uma arma, não ande por ruas sem luis, não sai de noite de casa.”  Entendeu Divino Mestre?
- Mais ou menos, respondi gaguejando.
- Bóra lá então, é o seguinte: o coroné tá dizeno que nóis somo os curpado. Temo que respeitá os bandido. O que é que um coroné tem dentro da cabeça meu Divino mestre? - (argh!) – pra dizê uma coisa dessa? Eita coroné abestado, sô!
Vulpino Argento o Demente, já demonstrava certo descontrole. Disse eu então que isso tudo é lamentável – usei essa palavra mais branda pra não dizer que o tal coronel é na verdade um imbecil – e que essas coisas estavam acontecendo em todo o país.
- Divino Mestre, - disse Vúlpi já menos aperreado -  um deputado do DEM do Tocantins vai propor uma lei que obriga apresentá a certidão de casamento nas recepição dos Moté pra quem vai lá coisá.
- Interessante! - balbuciei sem pensar na bobagem que estavam dizendo.
- Não Mestre, pense: solteiro, viúvo, divorciado não vai pudê coisá. E também não esprica se pode entrá no Moté com a certidão dos dois ou de cada um. Qué dizê só vai coisá casado de uma com a casada de um outro. Isso vai virá um fudevú! Apois então tive uma ideia, Quando for nomeado senador – ele é quarto suplente, o demente  - vou fazê uma lei pra bandido. É o seguinte: e a Lei da Prisão Perpéta com  liberdade.
- Que lei é essa, Vúlpi?
- Inda vô fazêêê!! É o seguinte: todo o bandido condenado há mais de 5 anos de prisão vai direto pra Ilha  Trindade. Ela fica miles e miles de quilômetro do Esprito Santo.
- Como?
- É aquele Estado do sul, não da pomba branca, fica bem no meio do oceano Atlanti. De lá não tem como sai pois tá cercada de piranha e a Marinha do Brasí vai botá duas Fragata de vigia. Quem tentá fugí leva bala!Mas antes disso vai levá prá lá madeira, prego, tijolo, cimento, telha, semente de pranta pra  prantá, umas caixa de remédio, inchada, foice, gadanho,martelo,machado e só. Feito isso começa a mandá pra lá tudo que é bandido das prisão do Brasí. Tudo que é bandido condenado há mais de 5 anos é levado pra lá. Assim que vão chegando vão se organizando e construindo as casas, prantando as pranta pra comida, fazendo amizade, organizando quadrilha pra se matá uns aos outros. Tudo a vontade deles e de lá ninguém mais sai; nem morto pois vai tê até cementério. Com essa lei, de minha autoria, todo bandido fica sabendo: foi condenado vai pra Trindade, sem dó nem piedade. Os condenado há cindo anos e menos vão sê solto quando cumpri a pena, mas se for pegado fazendo crime vai pra Trindade. Acabou a bandidage, Divino Mestre. Até bandido burro vai pensá duas veiz antes de fazê um crime. E as cadeia vão virá Porto de Saúde e Hospitá. Não vai fartá lugá pros dotô que tão chegando do estrangero trabaiá, né não?
- E quando vai ser isso Vúlpi? A ideia é muito boa, inédita, barata e assustadora, para os bandidos é claro.
_ Vai sê quando eu fô Senadô; por enquanto sô suprente, mas do jeito que a turma troca de partido e larga o mandado pra assumi coisa mió, minha vêis tá pertim, pertim.
- A ideia é muito boa mesmo. – lembrei-me de Thomas More, ouvindo as extraordinárias histórias que Américo Vespúcio contava para ele sobre a ilha de Fernando de Noronha, lá pelo ano de 1503. Fascinado com as narrativas resolveu escrever um livro chatíssimo,  A Utopia, “um lugar novo e puro onde existiria uma sociedade perfeita”. A Utopia de Vúlpi é bem ao contrário. Só que pra isso a dialética utópica do ainda 4º suplente de Senador teria que alterar a Constituição com uma PEC.
- PEC? Diabéisso?
- Essa tua ideia tem que ser discutida na Câmara e no Senado, em dois turnos. Se o Senado mudar uma vírgula, volta pra Câmara e depois de muita discussão e aprovação vai para o presidente da República que pode vetar artigos e acrescentar outros. E aí volta tudo para discussão. Isso se a lei for aprovada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, na de Assuntos Econômicos, de Assuntos Sociais, Meio Ambiente, Direitos Humanos, de Serviços de Infraestrutura, Agricultura e Reforma Agrária; E isso pode levar anos; talvez séculos.
- Arriégua, macho! Mais se tudo dé certo?
- Aí tem que fazer licitação para comprar esse material todo pra deixar na ilha; o que pode levar mais um século. E tem que ter autorização da Marinha de Guerra, da Secretaria do Meio Ambiente de Vitória, da Secretaria Estadual dos Direitos Humanos, do Ministério Público, das ONGS ambientalistas, de parte da Imprensa, das Igrejas, principalmente as neopentecostais e finalmente, dos Presidentes da Câmara e do Senado que põe projetos de lei pra discussão no plenário na ordem do dia, no dia que lhes der na cabeça.
- Mais quanto poblema meu Padim Ciço! Mais o salário é bem bãozim, né não Divino Mestre?
- É! – respondi com toda convicção.


*Cesar Cabral, jornalista e escritor.

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