segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Artigo

Importantes personalidades esquecidas

Adeli Sell*


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Theodor Wiederspahn, o alemão Theo, tido como o maior arquiteto gaúcho de todos os tempos, não serviu de nome para nada em Porto Alegre. Por outro lado, pessoas que pouco fizeram pela nossa cidade, ostentam seus nomes em placas de rua, obras, espaços públicos, escolas, entre outros, por obra de algum vereador amigo da família.
A nominação de logradouros virou uma banalidade na cidade. E isto que ainda restam mais de duas mil ruas sem identificação. Theo Wiederspahn foi o autor da Cervejaria Bopp, hoje o conhecido Shopping Total; o Edifício Ely, atual Tumelero; o nosso Margs e o Memorial do Rio Grande do Sul, antigo Correios e Telégrafos; Hotel Majestic, hoje Casa de Cultura Mário Quintana; Faculdade de Medicina da UFRGS; Hospital Moinhos de Vento e uma enormidade de edificações aqui e no interior.
Atraiu muita inveja, ciúme e despeito. Por ser de origem alemã, mesmo estando integrado à vida dos pampas, sofreu perseguições políticas durante a segunda guerra. Por causa do desgosto e muito ressentido pelo tratamento que recebera, acabou entrando em depressão e morreu com 73 anos.

Joseph Franz Seraph Lutzenberger, pai do nosso ecologista José Lutzenberger, foi um arquiteto e artista muito marcante, mas nenhuma rua, nenhum espaço leva seu nome na Capital. A Igreja São José, de tantos e tantos matrimônios, é dele.  Na Rua Jacinto Gomes, 39, no Bairro Santana, temos a casa que ele fez para ele e a família. Mas se você passar pelo Pão dos Pobres e pelo Palácio do Comércio, lembre-se, estes são dele também.

Marcos David Heckman, outro artista pouco lembrado. Recentemente, o amigo Milton Ribeiro, do Sul 21, lembrou de uma famosa obra dele que botaram abaixo pouco depois de construído, o Mata-borrão, que ficava nas esquinas da Av. Borges de Medeiros com a rua Andrade Neves.

Fernando Corona que disputou com Theo Wiederspahn a fama da arquitetura de nossa cidade é um dos poucos lembrados com uma rua perdida no Jardim Itu-Sabará. Além de arquiteto de mão cheia, foi escultor e diretor do Instituto de Artes. É autor do primeiro prédio modernista na cidade, o Edifício Guaspari, posteriormente esculhambado com um envelopamento duvidoso, na Praça XV. São dele o Santander Cultural, o Instituto Flores da Cunha, a Galeria Chaves e o Edifício Colonial da 24 de Outubro, no lado oposto do McDonalds. Imperdoável seria esquecer que o desenho da Fonte Talavera também é dele. E muito, muito mais.
Além dos famosos arquitetos alemães que vieram morar e trabalhar em Porto Alegre, nas primeiras décadas do século XX, como Theo Wiederspahn e Joseph Lutzenberger, arquitetos de outras nacionalidades também contribuíram para a formação do nosso patrimônio histórico. Entre estes, um arquiteto checo, da Boêmia, Josef Hrubý (em português, grafado sem acento, Hruby), teve um papel relevante para a imagem que temos da cidade. Muitas fábricas que hoje já não existem e importantes igrejas de Porto Alegre – como as da Sagrada Família, Nossa Senhora da Piedade, Glória, São Pedro e do Bom Conselho – são de autoria deste checo e integram a paisagem cotidiana e normalmente anônima da nossa cidade.

O engenheiro Manoel Barbosa Assumpção Itaqui fez o Viaduto Otávio Rocha, na Borges de Medeiros, com o seu colega Duilio Bernardi. É de autoria dele também o Observatório da Ufrgs, bem como a supervisão da Confeitaria Rocco.  Ambos também não têm nominações de nada e em nada na cidade.

Já o arquiteto João Moreira Maciel teve mais sorte, pois dá nome àquela rua que margeia o Guaíba, no Cais Navegantes, e vai dar na divisa com Canoas. É bom lembrar esta figura porque Porto Alegre é a primeira Capital do país a ter um Plano Diretor. No início do século XX, surgiu a primeira tentativa de organizar o crescimento da cidade com o arquiteto João Moreira Maciel propondo o "Plano Geral de Melhoramentos", que data de 26 de agosto de 1914. Apesar de ser um plano tipicamente viário, era baseado em princípios orientadores bem definidos.
Como estes citados, há outros tantos que precisamos lembrar e mostrar as suas contribuições para a arquitetura e urbanismo de nossa cidade. Mais do que nunca é preciso tratar deste tema, como da arte de rua, dos monumentos, da arte cemiterial. Não posso me furtar de fazer uma autocrítica, pois passei 16 anos na Câmara e nominei pouquíssimos logradouros da cidade. Sucumbi às criticas de que vereador só sabe "dar nome de rua". Equivoquei-me.
Não podemos deixar que Porto Alegre perca sua memória, seu passado moderno e ousado, sem as devidas marcações e lembranças.

*Escritor e consultor.

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