Importantes personalidades esquecidas
Adeli Sell*
Adeli Sell*
Theodor Wiederspahn, o alemão Theo, tido como o maior
arquiteto gaúcho de todos os tempos, não serviu de nome para nada em Porto
Alegre. Por outro lado, pessoas que pouco fizeram pela nossa cidade, ostentam
seus nomes em placas de rua, obras, espaços públicos, escolas, entre outros,
por obra de algum vereador amigo da família.
A nominação de logradouros virou uma
banalidade na cidade. E isto que ainda restam mais de duas mil ruas sem
identificação. Theo Wiederspahn foi o autor da Cervejaria Bopp, hoje o
conhecido Shopping Total; o Edifício Ely, atual Tumelero; o nosso Margs e o
Memorial do Rio Grande do Sul, antigo Correios e Telégrafos; Hotel Majestic,
hoje Casa de Cultura Mário Quintana; Faculdade de Medicina da UFRGS; Hospital
Moinhos de Vento e uma enormidade de edificações aqui e no interior.
Atraiu muita inveja, ciúme e despeito. Por ser
de origem alemã, mesmo estando integrado à vida dos pampas, sofreu perseguições
políticas durante a segunda guerra. Por causa do desgosto e muito ressentido
pelo tratamento que recebera, acabou entrando em depressão e morreu com 73
anos.
Joseph Franz Seraph Lutzenberger, pai do nosso ecologista José
Lutzenberger, foi um arquiteto e artista muito marcante, mas nenhuma rua,
nenhum espaço leva seu nome na Capital. A Igreja São José, de tantos e tantos
matrimônios, é dele. Na Rua Jacinto Gomes, 39, no Bairro Santana, temos a
casa que ele fez para ele e a família. Mas se você passar pelo Pão dos Pobres e
pelo Palácio do Comércio, lembre-se, estes são dele também.
Marcos David Heckman, outro artista pouco lembrado. Recentemente, o amigo Milton
Ribeiro, do Sul 21, lembrou de uma famosa obra dele que botaram abaixo pouco
depois de construído, o Mata-borrão, que ficava nas esquinas da Av. Borges de
Medeiros com a rua Andrade Neves.
Fernando Corona que disputou com Theo Wiederspahn a
fama da arquitetura de nossa cidade é um dos poucos lembrados com uma rua
perdida no Jardim Itu-Sabará. Além de arquiteto de mão cheia, foi escultor e
diretor do Instituto de Artes. É autor do primeiro prédio modernista na cidade,
o Edifício Guaspari, posteriormente esculhambado com um envelopamento duvidoso,
na Praça XV. São dele o Santander Cultural, o Instituto Flores da Cunha, a
Galeria Chaves e o Edifício Colonial da 24 de Outubro, no lado oposto do
McDonalds. Imperdoável seria esquecer que o desenho da Fonte Talavera também é
dele. E muito, muito mais.
Além dos famosos arquitetos alemães que vieram
morar e trabalhar em Porto Alegre, nas primeiras décadas do século XX, como
Theo Wiederspahn e Joseph Lutzenberger, arquitetos de outras nacionalidades
também contribuíram para a formação do nosso patrimônio histórico. Entre estes,
um arquiteto checo, da Boêmia, Josef
Hrubý (em português, grafado
sem acento, Hruby), teve um papel relevante para a imagem que temos da cidade.
Muitas fábricas que hoje já não existem e importantes igrejas de Porto Alegre –
como as da Sagrada Família, Nossa Senhora da Piedade, Glória, São Pedro e do
Bom Conselho – são de
autoria deste checo e integram a paisagem cotidiana e normalmente anônima da
nossa cidade.
O engenheiro Manoel
Barbosa Assumpção Itaqui fez
o Viaduto Otávio Rocha, na Borges de Medeiros, com o seu colega Duilio Bernardi. É de autoria
dele também o Observatório da Ufrgs, bem como a supervisão da Confeitaria
Rocco. Ambos também não têm nominações de nada e em nada na cidade.
Já o arquiteto João Moreira Maciel teve mais sorte, pois dá nome àquela
rua que margeia o Guaíba, no Cais Navegantes, e vai dar na divisa com Canoas. É
bom lembrar esta figura porque Porto Alegre é a primeira Capital do país a ter
um Plano Diretor. No início do século XX, surgiu a primeira tentativa de
organizar o crescimento da cidade com o arquiteto João Moreira Maciel propondo
o "Plano Geral de Melhoramentos", que data de 26 de agosto de 1914.
Apesar de ser um plano tipicamente viário, era baseado em princípios
orientadores bem definidos.
Como estes citados, há outros tantos que
precisamos lembrar e mostrar as suas contribuições para a arquitetura e
urbanismo de nossa cidade. Mais do que nunca é preciso tratar deste tema, como
da arte de rua, dos monumentos, da arte cemiterial. Não posso me furtar de
fazer uma autocrítica, pois passei 16 anos na Câmara e nominei pouquíssimos
logradouros da cidade. Sucumbi às criticas de que vereador só sabe "dar
nome de rua". Equivoquei-me.
Não podemos deixar que Porto Alegre perca sua
memória, seu passado moderno e ousado, sem as devidas marcações e lembranças.
*Escritor e consultor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário