Um movimento sem destino
Sem a cara, mas com os cabelos coloridos e o corpo marcado por
tatuagens, centenas de estudantes ocuparam, mais uma vez, a Praça Montevidéu,
em frente à prefeitura, para reclamar do preço da passagem do transporte coletivo.
Desta vez. felizmente, a movimentação pareceu pacífica. Um forte contingente da
BM guardou o prédio da municipalidade, impedindo que se repetissem os atos de
vandalismo da última quarta-feira, quando manifestantes quebraram vidraças e
jogaram tinta contra o prédio.
Foto: Ricardo Duarte/Agência RBS
Mais tarde, pelo que li e ouvi, os manifestantes saíram em
caminhada pela Avenida Júlio de Castilhos, subiram no arco da estação Trensurb
e rumaram para a Voluntários da Pátria. O trânsito ficou totalmente prejudicado
e as pessoas que naquela hora tentavam voltar para casa, foram impedidas.
Muitas das que assistiam a manifestação, reclamavam que, devido ao ato,
serviços importantes como recarregar o cartão TRI ou entrega de medicamentos no
Centro de Saúde Santa Marta, estavam fechados desde às 17h30.
Ao passar pela Borges de Medeiros, vi vários meninos e
meninas, alguns nem tanto, caminhando em direção à prefeitura.
Muitos tinham o cabelo pintado de vermelho, outros de amarelo, quase todos com
tatuagens nos braços e pernas e vários com latas de cerveja nas mãos.
Confesso que não tenho nenhum tipo de preconceito quanto á
cor dos cabelos e muito menos contra as tatuagens. Cada um faz de seu corpo o
que bem entende. Só não concordei, intimamente, é claro, com o consumo de
bebida alcoólica por quem se dirigia para um protesto. O álcool não é um bom
companheiro numa hora dessas.
Finalmente cheguei ao lotação que me traz para casa e fiquei
pensando no quanto existe de diferença no movimento dos caras-pintadas para o
que assisti hoje. Naquele, os jovens saíram às ruas para defender o sentimento
de uma população inteira. E, sem precisar do auxilio da latinha de cerveja,
foram vencedores. Hoje, num movimento claramente político partidário, jovens,
não necessariamente estudantes, cobrem o rosto com lenços, prejudicam a
movimentação de veículos e pessoas, são agressivos e, certamente, participam de
um movimento sem destino. Afinal, acredito que muitos estejam ali lutando pelo
que não sabem, esbravejando contra o que não entendem e, lamentavelmente, obedecendo
a ordens de quem sabe muito bem o que quer.
Machado Filho
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