Uma reflexão que se impõe
Cezar Busatto*
As ações de violência contra pessoas e bens públicos que
ocorreram durante a manifestação de quarta-feira, 27, em frente à prefeitura de
Porto Alegre, requerem reflexão por parte de todos nós que lutamos pela
democracia e defendemos este regime político para o país.
Situações semelhantes já aconteceram recentemente aqui -
destruição do Tatu-bola - e tem acontecido em outros lugares do país e do
mundo. Em geral, são lideradas por jovens militantes de organizações e partidos
políticos anticapitalistas, que não acreditam na via democrática para realizar
as transformações de que o país necessita. E suas lutas têm conseguido adesão
crescente na juventude e em outros segmentos da sociedade.
Um olhar superficial pelo Brasil e pelo mundo pode dar-lhes
razão. Nossas instituições estatais e nosso modelo político democrático estão
muito longe de corresponder a expectativas da maioria da sociedade. Há um
sentimento generalizado de insatisfação que, no caso brasileiro, tem se
traduzido numa tentativa ainda que limitada de reforma da política, finalmente
em votação nos próximos dias pelo Congresso Nacional.
Por outro lado, a crise capitalista nos EUA e principalmente
na Europa, mesmo nos marcos do regime democrático, escancara suas consequências
em termos de desemprego, perda de direitos sociais, precarização de serviços
públicos para os mais pobres, servindo como alerta para as demais regiões e
países do mundo, inclusive o Brasil. Diante dessa realidade, parece legítima a
pergunta: a via democrática é ainda o caminho para aqueles que querem e lutam
pela mudança, ou esse caminho está esgotado e, portanto, é preciso recorrer à
prática da violência para desgastar e romper com o poder político vigente e
instaurar a mudança por vias não democráticas?
Considero que a resposta dada à pergunta pelos jovens
líderes das manifestações de Porto Alegre está equivocada. Primeiro, porque a
prefeitura tem sido um poder sensível e aberto à pressão popular legítima,
tendo resolvido todos os conflitos que ocorrem na cidade por meio do diálogo,
da negociação e do respeito às instituições do Estado Democrático de Direito.
Quando a prefeitura errou pela falta de diálogo e
negociação, como foi no caso do corte das árvores na frente do Gasômetro, o
próprio prefeito admitiu o equívoco e agiu prontamente para a correção.
Segundo, porque nossa democracia está longe de esgotada. Ela é incipiente,
limitada e distorcida, e precisamos de mais conscientização e mobilização
popular para torná-la mais democrática, mais ética, mais cidadã. Nesse sentido,
a experiência política no Brasil, na América Latina e no resto do mundo ensina
que as maiorias têm trilhado o caminho da ampliação e aprofundamento da
democracia para realizar as mudanças econômicas e sociais necessárias.
Ou seja, a via democrática só não serve para minorias que
tentam impor sua vontade, não pelo convencimento, mas pela força e pela
violência.
*Secretário de Governança Local
Nenhum comentário:
Postar um comentário