Quanto mais apanha,
mais
Bolsonaro encorpa
Por J.R. Guzzo
Às vezes, francamente, a
gente fica com a impressão de que os inimigos do presidente Jair Bolsonaro
estão cada vez mais empenhados em garantir a sua reeleição nas eleições
presidenciais de 2022. Não é o que querem, é claro, mas é o que acabam fazendo
na prática em seus atos do dia a dia. Bolsonaro, como sabem até as crianças de
10 anos de idade, cresce e prospera, acima de tudo, em situações em que o
colocam sob o fogo de artilharia pesada. É aí que ele realmente brilha.
É óbvio: de um lado está
um bando de políticos de quinta categoria, uma mídia na qual o público acredita
cada vez menos e detesta cada vez mais, e os grandes interessados em manter o
Brasil aprisionado no atraso. Do outro lado está o cavaleiro solitário que tem
o peito de enfrentar todos eles. Tanto faz se isso corresponde ou não à
realidade dos fatos. É isso, e só isso, que a maioria da população, como ficou
contabilizado nas eleições de 2018, tem a certeza de que está acontecendo.
Resultado: quanto mais batem, mais ele encorpa.
Não seria o caso, então,
de pensar em alguma outra estratégia? Em vez de se entregar, praticamente todo
dia, a acessos de cólera cada vez menos equilibrados contra o presidente, não
seria talvez o caso de fazer alguma coisa séria para tirar dele o palco
permanente que estão lhe dando de graça? É pouco provável, obviamente, que
Bolsonaro colabore com o inimigo e aceite, como um bom moço, ir para a
geladeira – ele, que precisa do calor de 40 graus para ser politicamente
viável. Estará, de um jeito ou de outro, fazendo coisas para manter-se no
centro das atenções. Mas aí, pelo menos, o trabalho será dele. Do jeito que
está, a oposição se encarrega de fazer esse esforço em seu lugar.
O “domingo do coronavírus”
foi um clássico no gênero. As manifestações de protesto originalmente voltadas
contra o Congresso — e que Bolsonaro encampou como sendo a favor do seu governo
— poderiam ter levado recordes de público às ruas de todo o Brasil. Com o clima
antivírus e os esforços gerais para se reduzir os riscos de contágio, seus
inimigos ganharam um belíssimo presente – as manifestações foram uma fração do que
poderiam ter sido. Era só deixar quieto. Mas o que a oposição faz? Justamente
na hora em que o chope do presidente fica aguado, saem de pau em cima dele
porque foi cumprimentar, fazer selfies, etc, com grupos que, apesar da
epidemia, foram saudá-lo na porta do palácio. Pronto: Bolsonaro, inteiramente
sem custo, vira a figura central da história toda.
O presidente passou a
imagem do homem que tem coragem de ir onde o povo está, num momento de perigo,
enquanto os adversários se escondem pelos cantos. Os bolsonaristas vibram. Ele
não perde um voto. Os outros não ganham nada. Aí, para completar a obra prima,
entram com um pedido de “impeachment”. E quem apresenta o pedido? O ator
Alexandre Frota. É uma piada cinco estrelas; um pedido como esse desmoralizaria
o impeachment de Idi Amin. Bolsonaro, desse jeito, vai ter de fazer muita força
para perder.
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