Coronavírus é prato cheio
para
quem gosta de fazer politicagem
Por J. R. Guzzo
Já faz tempo, e talvez
tenha sido assim desde o começo, que a epidemia causada pelo coronavírus no Brasil
deixou de ser uma questão de ciência médica, tratada em laboratórios e centros
de pesquisa, ou de administração da saúde pública, gerida nos órgãos públicos
encarregados de cuidar disso, e passou a ser uma questão política. As decisões,
aqui, são tomadas em reuniões onde os presentes estão pensando em ganhar
eleições, não em curar coisa nenhuma, e a “turma do marketing” sempre tem voz
ativa – às vezes decisiva.
Médicos? Pesquisas dos
melhores centros do saber mundial? Números e estatísticas confiáveis, em vez de
“projeções”, “modelos” ou “cenários”? Dane-se tudo isso. O que importa no
Brasil de hoje é tirar vantagem do vírus – para a eleição presidencial de 2022
ou, mais urgente ainda, para agora mesmo, nas municipais de 2020.
É uma tragédia, realmente,
que as decisões sobre a epidemia tenham sido sequestradas por gente sem a menor
qualificação técnica para tratar de uma dor de cabeça. Em vez das melhores
cabeças da ciência nacional e da cooperação internacional de primeiro nível –
não essa palhaçada de OMS, um puxadinho da ONU hoje sob a direção de um sócio
de uma ditadura africana que nem sequer é formado em Medicina – temos, com
autoridade para tomar decisões sobre a epidemia, uma turba de 27 governadores e
5.500 prefeitos. Em boa parte, estão pensando unicamente em seus próprios
interesses.
Muitos deles, tanto
governadores como prefeitos, são semianalfabetos em geral e analfabetos plenos
em Medicina. Têm à sua disposição fiscais, verbas e a possibilidade de assinar
decretos cuja legalidade a Justiça não está apreciando – ou, pior ainda, onde
os juízes decidem contra a Constituição e as demais leis do país. É a receita
para o desastre.
Ficamos assim, então: quem
resolve a vida das pessoas não é mais o Poder Legislativo nem o Poder
Judiciário; é um bando sem cabeça, sem coordenação e sem senso moral, que tem
como única preocupação, em sua maioria, adivinhar qual é o barco certo para
colocar os pés. São dois esses barcos. Quem é a favor da receita do “isolamento
horizontal”, como virou moda dizer — “fica em casa e fecha tudo” — é “de
esquerda”, ou “progressista”, ou “antifascista” ou
“liberal-intelectual-civilizado”. No mínimo, é contra o governo. Quem é contra,
e defende a volta a atividade produtiva, é “de direita”. Entre os dois, há toda
uma imensa população com medo de morrer e sem informação.
Os governadores e
prefeitos que julgaram mais conveniente jogar suas fichas no isolamento
horizontal têm a seu favor um elemento essencial: há milhões de pessoas,
efetivamente, que tendem por natureza a temer o cenário de catástrofe, e têm
recursos, por modestos que sejam, para sobreviver à paralisia econômica imposta
pela quarentena total, repressiva e sem data para acabar dos governadores e
prefeitos.
Há entre eles gente que
tem a renda garantida: para citar um exemplo só, os 12 milhões de funcionários
públicos. Some-se a eles as suas famílias, os aposentados que conseguem
sobreviver sem complementar o rendimento mensal, os que trabalham sem ser
empregados, os que vivem de renda, etc, e tem-se uma multidão. É uma população
que não tem a necessidade vital de sair de casa e ir trabalhar imediatamente
para ganhar a vida. Eis aí o pesqueiro ideal para os demagogos.
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