sábado, 14 de dezembro de 2019



A democracia fascista

A escalada fascista é um sucesso e está em cartaz num discurso febril perto de você. Mas você não sabia direito o que era fascismo e nós explicamos aqui: fascismo, na sua conotação moderna, é tudo aquilo que rasgue a minha fantasia progressista, desmascare o meu humanismo de butique e me impeça de ganhar a vida fingindo salvar o mundo de um inimigo imaginário – e eu aceito débito, crédito, dinheiro público e privado, mas prefiro público, que não é de ninguém.

Agora que você já entendeu o que é fascismo, vamos explicar o que é democracia. Existem várias formas de democracia – e a seguir apresentaremos algumas delas:

Democracia é roubar o Brasil e ir fazer palestra na USP para intelectuais de cabresto;

Democracia é usar o filho como laranja para receber 132 milhões de reais de empresa de telefonia (você não leu 132 mil, ok?) e investir no seu sítio que não é seu – para depois se deliciar lendo pesquisas arranjadas que dizem que você merece estar solto, porque afinal você é um bom ladrão;

Democracia é fingir fazer jornalismo e passar um ano inteiro escondendo indicadores de recuperação econômica – inclusive queda consistente da inflação – para depois transformar o preço da carne em tragédia nacional;

Democracia é se fantasiar de analista político para ficar panfletando a favor do mais demagogo e sectário trabalhismo inglês, espalhando que ele é a salvação contra o obscurantismo xenófobo protofascista – que por sua vez só ganha eleição com manipulação de redes sociais;

Democracia é dizer que toda eleição vencida por candidato que atrapalha sua narrativa hipócrita foi fraudada em conluio com a Rússia e as tias do WhatsApp;

Democracia é produzir fake news em veículos tradicionais fingindo combater fake news em redes sociais;

Democracia é defender uma agenda liberal e jogar pedra em quem está implantando exatamente essa agenda no país porque só serve se for feita por você, pelo seu partido ou pela sua ONG, de forma que você possa se beneficiar pessoalmente daquilo que você diz que é interesse público;

Democracia é tentar transformar o catastrofismo envernizado de uma adolescente em coisa séria – para investir nessa vida boa de ficar dizendo que Trump é belzebu e acusando todo mundo de tudo sem precisar propor nada, muito menos trabalhar por alguém;

Democracia é ver um governo trabalhando duro – com resultados consistentes – para libertar o povo do flagelo daqueles que sequestraram o Estado e a liberdade e ficar perguntando pelo AI-5;

Democracia é sabotar a construção do presente evocando a boçalidade do passado para viver eternamente como vítima profissional e herói de coisa alguma;

Democracia é atacar sistematicamente o grande contingente de pessoas comuns que se manifestam nas redes sociais em apoio às reformas governamentais acusando-as de serem robôs;

Democracia é fraudar a representação da classe dos advogados, se juntando aos que atropelaram a lei, para conspirar contra os que flagraram e puniram a delinquência dos seus parceiros de politicagem;

Democracia é ser porta-voz de empreiteiro ladrão espalhando suas lamúrias por aí para ver se cola;

Democracia é fazer militância dentro do tribunal de contas censurando e perseguindo de forma fútil os principais ministros do governo contra o qual você quer panfletar, porque os seus padrinhos foram parar na jaula.

Se após esse resumo ainda não estiver claro para você o que é fascismo e o que é democracia, não se desespere: sintonize agora um desses canais onde Gilmar Mendes era vilão e passou a herói no exato momento em que deu o golpe na prisão em segunda instância, declarando guerra a Sergio Moro. Ali você vai entender tudo sobre democratismo e fascia – ou vice-versa.

Guilherme Fiuza


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