O STF e o VAR
Contornando o
analfabetismo erudito das criaturas togadas e falando em português: o STF quer
revogar a prisão no Brasil.
Ou, mais precisamente,
revogar a prisão para quem pode contratar bons advogados. Mas você não precisa
ser da elite para participar da festa. Basta cometer crimes rentáveis que te
deixem com bala suficiente para os honorários – porque a magnífica justiça
nacional não vai querer saber de quem você roubou a grana.
No supremo circo da
re-re-reavaliação da possibilidade de prisão após condenação em 2ª instância, a
OAB, leal concubina do PT, já deu um show de motivos pelos quais o STF deve
soltar o maior ladrão do país – perseguido por roubar honestamente o povo. Só a
fortuna torrada pela quadrilha petista com uma multidão de advogados milionários
na última década (desde o mensalão) já valeria a lealdade eterna da OAB. Mas os
motivos são ainda mais nobres.
Eles querem soltar Lula
para bombardear Sergio Moro, antes que o banho de justiça desse
estraga-prazeres chegue ao STF – o que seria uma tragédia para toda essa alegre
comunidade Lula Livre.
Os supremos companheiros
estão dizendo que não voltaram a julgar a prisão em 2ª instância por conta de
“um caso particular”. É verdade. Lula há muito tempo deixou de ser particular.
Ele hoje é um bem público, patrimônio inestimável dessa elite nacional que
sempre pôde viver acima das leis, numa boa – arrotando ética naqueles discursos
afetados e engordurados como os cabelos de seus advogados empapados de gel.
Na real, é o seguinte: que
papo é esse de prender os maiores empreiteiros do país, até então intocáveis,
só porque eles privatizaram o Palácio do Planalto em sociedade com a quadrilha
petista? Com quem essa Lava Jato pensa que está falando?
É claro que ninguém diz
isso. A elite parasitária diz que quer Lula livre porque a MPB quer. A MPB diz
que é porque a ONU quer. E todos eles dizem que a OAB falou que está tudo
certo. Enfim, toda essa charmosa corrente da hipocrisia nacional é
retroalimentada por sua própria verdade trans, que jura ter nascido equivocadamente
no corpo de uma mentira cabeluda.
Mas o Supremo Tribunal
Federal já não tinha decidido a favor da prisão após condenação em 2ª
instância? Já, mas isso não quer dizer nada. O melhor de ser uma corte
avacalhada é justamente não precisar respeitar suas próprias decisões. Ao menos
um pouco de lucidez no picadeiro.
O relator da matéria é
Marco Aurélio – aquele que interrompeu a sessão do habeas corpus preventivo de
Lula porque já tinha feito o check in. Lula também já tinha feito o check out –
várias vezes, inclusive, mas essa linda coreografia tem sido atrapalhada ao
longo de um ano e meio pelo miserável estado de atenção do povo nas ruas,
exigindo o cumprimento da lei e a prisão do criminoso número um. Dessa vez
Marco Aurélio diz que a votação dos supremos companheiros colocará o ladrão na
rua.
Veja que cena sublime: o
juiz relator da matéria em pleno processo de julgamento na corte máxima do país
dando entrevista com palpite sobre o placar da decisão final do tribunal. Se
você se sentiu à beira de um campo de várzea, você se enganou. Na várzea, juiz
que vacila tem que correr mais que os jogadores e a torcida.
No planalto, juízes que
vacilam são execrados pelo povo – e suas excelências já sabem o que é o calor
popular na nuca. O país aprendeu com Sergio Moro que não existe malandro
intocável, e aí não tem mais volta: pode dar rasteira e botar a mão na bola que
o VAR vai botar cada delinquente sentadinho no seu lugar, que nem o Lula. Pode
demorar um pouco – tecnologia nova... – mas vai.
Guilherme Fiuza
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