sábado, 5 de outubro de 2019



Exclusivo: 
Os gastos sigilosos do cartão corporativo 
da ex-presidente Dilma

O sigilo nos gastos da Presidência da República com cartão corporativo foi criado para proteger informações que possam ameaçar a segurança do presidente e de seus familiares. Mas a privacidade imposta pela lei esconde também despesas com mordomias e luxos que a maioria esmagadora dos brasileiros não tem acesso, como, por exemplo, bebidas e comidas sofisticadas.


É o que mostram os gastos até hoje secretos feitos para atender a então presidente Dilma Rousseff em 2012, no segundo ano de mandato dela. Com base na Lei de Acesso à Informação, o blog solicitou ao Palácio do Planalto a abertura dos arquivos que registram as despesas com cartão corporativo da petista e também de Lula e Michel Temer. A legislação determina o sigilo de 98% das despesas da Presidência da República e a confidencialidade dura até o final do mandato.

Ao longo dos últimos 15 dias, o blog analisou os relatórios do governo Dilma e descobriu gastos extravagantes, como garrafa de cachaça por R$ 380 e compra de camarão rosa tamanho GGG por R$ 230 o quilo. Há ainda o aluguel de uma lancha para passear por R$ 30 mil. Todos os valores foram atualizados pela inflação.

Dilma viajou para a Base Naval de Aratu, no município de Salvador, para passar o réveillon e alguns dias de folga, no final de dezembro de 2011. Só com a lavagem de roupa de cama, mesa e banho foram gastos R$ 3,8 mil. Também foram gastos R$ 340 com o aluguel de filmes clássicos na Cult Vídeo. A locação de um gerador de energia elétrica para iluminar as instalações da base custou R$ 10 mil. Tudo pago com cartão corporativo.

Um verdadeiro séquito de servidores acompanhou a presidente, desde seguranças até empregados domésticos. A lancha utilizada pela presidente Dilma e convidados durante a sua permanência na base naval foi alugada por R$ 20,4 mil (valor da época). O relatório da viagem informa que a despesa foi paga “em espécie” porque o fornecedor não trabalhava “com nenhum tipo de cartão de crédito”.

Bebidas e carnes sofisticadas: passa no cartão corporativo

Em janeiro de 2012, as compras para atender as necessidades do Palácio da Alvorada incluíram 6 garrafas da cachaça Havana, uma das mais famosas do país, ao preço de R$ 246 a unidade. No mês seguinte, a adega foi reforçada com 6 garrafas do espumante Freixenet Cava Premium, por R$ 91 cada; mais 6 garradas do vinho português Quinta das Tecedeiras, no valor de R$ 136 a unidade. De Araguari (MG), vieram mais 8 garrafas da cachaça Montanhosa Tonel, no valor de R$ 280 cada uma delas.

Os alimentos mantinham a sofisticação das bebidas. No mesmo período, foram comprados no Empório Kalamares 5 quilos de codorna desossada por R$ 577 e 8 quilos de carrê de cordeiro por R$ 976. Na Peixaria do Guará, a mais tradicional de Brasília, além de 41 quilos de côngrio rosa e pescada amarela, foram adquiridos 12 quilos de camarão rosa tamanho GGG, no valor total de R$ 1,7 mil.

Na Viande Boutique de Carnes, no final de janeiro daquele ano, compraram 81 quilos de filé mignon por R$ 5,7 mil. Uma semana depois, na mesma loja, gastaram mais R$ 6,2 mil com 89 quilos de filé mignon. E ainda levaram dois quilos e meio de picanha Uruguay por R$ 239. Houve ainda a compra de mais 10 quilos de codorna desossada, tudo do período de um mês.

Nas compras de supermercados com cartão corporativo aparecem também queijos muito especiais, como o Cablanca Holandês, por R$ 99 o quilo; e o Grano Padano, por R$ 150 o quilo. E não poderia faltar a sobremesa. Os cartões corporativos já foram usados para comprar tapioca em Brasília. Em fevereiro de 2012, foram adquiridas cinco caixas de sorvete de tapioca por R$ 400.

Os cartões são usados para tudo. Naquele período, foram compradas duas coleiras por R$ 255. Dilma tinha um labrador que a acompanhou por 12 anos, de nome Nego. Nos registros há ainda aquisições de material para a manutenção da piscina do Alvorada, material da copa e cozinha, bolos e lanches variados.



Por Lúcio Vaz
Lúcio Vaz é jornalista e cobre a política em Brasília há 30 anos, revelando mordomias, privilégios, super salários, desvios de recursos públicos e negociatas nos três poderes.

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