Projeto de abuso de
autoridade tem a Lava-Jato como alvo
Aprovada em votação
simbólica, na
noite desta quarta-feira pela Câmara dos Deputados , a proposta
que define e pune abuso de autoridade é
vista por procuradores e juízes como subjetiva e ampla demais, o que abre
caminho para punições injustas, ainda mais quando os alvos de suas ações forem
poderosos. Em sua origem, estão políticos que foram desde o início contra
a Lava-Jato , e os
principais integrantes da operação, entre eles o atual ministro Sergio Moro,
estes sempre contra o projeto. Como já foi aprovado no Senado e não foi
modificado na Câmara, o texto do projeto seguirá
para sanção presidencial.
Entenda em cinco pontos
por que o projeto contra o abuso de autoridade tem a operação anticorrupção na
sua mira.
Origem do projeto
O projeto foi apresentado
e relatado pelo então senador Roberto Requião, contumaz crítico dos supostos
abusos da operação Lava-Jato. Ao lado de Renan Calheiros, que também é do MDB,
Requião já se manifestou diversas vezes contra a Lava-Jato e o que considera
abusos da investigação. "Procuradores sob as ordens de Moro agiram como
aloprados", disse, recentemente.
Fora das punições
Algumas das medidas
listadas como passíveis de punição no projeto, como "decretar a condução
coercitiva de forma descabida" ou "divulgar gravação sem relação com
as provas que se pretende produzir em investigação" são exatamente as mesmas
que críticos da Lava-Jato fizeram durante fases da operação, como durante a
condução coercitiva do ex-presidente Lula, depois condenado em terceira
instância por corrupção.
Temor da Lava-Jato
A própria Lava-Jato sempre
acusou o projeto de ser, na verdade, um ataque à sua atuação. Em
artigo publicado no GLOBO, em abril de 2017 , o então juiz Moro
afirmou que o projeto continha dispositivos que, se aprovados, teriam como o
efeito prático a criminalização da interpretação da lei, o que intimidaria a
atuação independente dos juízes "pelo simples fato de agir contrariamente
aos interesses dos poderosos".
Aliança dos alvos
A medida aprovada na
quarta-feira teve apoio dos principais partidos envolvidos nos recentes
escândalos de corrupção. O líder do PT na Câmara defendeu o voto favorável à
proposta de punir juízes e policiais "que se utilizam de seus cargos
para perseguir pessoas inocentes”. Seguiram o PT, nas críticas e nas votações,
partidos como o MDB e o PP, os principais atingidos pela Lava-Jato.
Reação dos Investigadores
Após a aprovação, algumas
das principais associações de juízes e de procuradores reagiram. A Associação
Nacional dos Membros do Ministério Público afirmou: "A agilidade imposta
para priorizar o projeto implica uma inversão de pauta que contraria os anseios
da sociedade. Ao invés de votar os projetos de lei que reforçam o combate à
corrupção, às organizações criminosas e à impunidade, os parlamentares optaram
por votar um texto que pode, eventualmente, inibir a atuação dos agentes
encarregados de combater a corrupção".
Fonte: O Globo
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