O Supremo não quer que
eles – enquanto
contribuintes – sejam tratados como nós
Há certo embate entre o
ministro Gilmar Mendes, ex-presidente do Supremo, e a procuradora-geral da
República, Raquel Dodge. Ela criticou um processo do STF que fez parar uma
pesquisa da Receita Federal que incluía nomes de dois ministros: Dias Toffoli e
Gilmar Mendes.
Seria algo normal com
todos nós, mas o Supremo acha que não pode ser feito com eles. Dodge disse que
não pode haver tribunal de exceção. Gilmar Mendes respondeu dizendo que
tribunal de exceção é a Lava Jato.
Mas a Lava Jato não é um
tribunal: quem investiga é a Polícia Federal e quem denuncia é o Ministério
Público. Agora, quem julga é a Justiça. O próprio Gilmar Mendes já foi
presidente do poder Judiciário e sabe muito bem disso.
Essa pesquisa envolve
todos nós contribuintes, mas está dando problema porque, ao que parece, o
Supremo não quer que eles - enquanto contribuintes - sejam tratados como nós,
os outros contribuintes.
Em duas palestras que fiz
aqui no Rio Grande do Sul, eu disse que ninguém está acima da lei e ninguém
pode estar acima da lei. Disse também que o STF tem que ser o maior exemplo de
cumprimento da lei porque, afinal, ele é o tribunal Supremo.
Existe suposto assédio?
Eu vi uma notícia de que o
ex-senador Luiz Estevão - que está cumprindo pena em Brasília pelo escândalo da
construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo - está agora cumprindo
castigo de três dias em isolamento. Segundo a notícia, “por suposto assédio a
uma agente penitenciária”.
Eu não entendo como alguém
pode ser punido por algo suposto. A gente tem que revisar o nosso texto
jornalístico; se é um suposto é porque alguém supôs. Vão puni-lo por alguém
supôs?
Eu tenho visto essa
linguagem: o sujeito confessou que matou, mas ele é o suposto assassino. Como
assim suposto assassino se ele é o assassino confesso? Está na hora de corrigir
nisso.
Por falar em jornalismo...
Uma televisão e uma
revista, ambas de São Paulo, pediram para entrevistar o Adélio Bispo. O
Tribunal Regional Federal da 3ª Região não permitiu.
Eu fico pensando enquanto
olho o diagnóstico do Adélio Bispo. Se ele sofre de transtorno delirante
permanente, como é que a gente entrevista pessoas transtornadas e delirantes
permanentemente?
Eu não entrevistaria a não
ser que fosse para um documentário sobre mau tratamento dessas pessoas. Mas
entrevistar alguém com transtorno delirante permanente só pode ser delírio.
Uma medida que demorou
para sair
Foi publicada uma medida
provisória do presidente da República que eu achei que demorou para sair.
Fica cancelada a obrigatoriedade de as empresas publicarem seus balanços em
jornais. Até porque ninguém lê um balanço publicado em jornal...
A única coisa que acontece
é o seguinte: o jornal ganha dinheiro com isso porque a empresa tem que pagar
uma ou, às vezes, duas páginas inteiras de jornais. É uma coisa que já está
fora de época, extemporânea, não existe mais.
Antes o jornal era o único
meio de comunicação, mas hoje a empresa coloca o balanço no seu site e os
acionistas, os cotistas e os associados vão lá e olham. Não precisa mais pagar
página de jornal. Coisas óbvias...
A maconha, a esquizofrenia
e a medicina
Foi apreendida uma
tonelada e meia de maconha no porto de Itajaí. Era uma maconha que estava indo
para a Europa deixar os europeus viciados e esquizofrênicos. É isso que a
maconha provoca. Além disso, essa droga provoca depressão, suicídio e o
retardamento de reflexos.
O Hospital das Clínicas de
Porto Alegre fez uma pesquisa e descobriu que a maconha causa mais acidentes de
trânsito que o álcool. E todo mundo sabe que a fumaça da maconha causa mais
câncer que a fumaça do tabaco.
Agora, entre as 480
substâncias da maconha existe uma chamada canabidiol. Estão usando esse
pretexto para tentar liberar o plantio de maconha. Primeiro tentam liberar o
canabidiol fazendo lobby na Anvisa. Depois vão querer liberar o uso recreativo,
e depois o plantio.
Tudo isso é inútil se a
gente lembrar que tem um laboratório brasileiro, em Toledo no Paraná, o
Prati-donaduzzi, que está que está no finzinho da produção sintética do
canabidiol. Inclusive já está fazendo um remédio chamado Myalo para epilepsia.
Então, se já há a produção
sintética do elemento canabidiol não justifica esse lobby todo: um negócio de
R$ 10 bilhões ao ano que estão fazendo sobre Anvisa.
Alexandre Garcia
Gazeta do Povo
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