Tabata ou PDT? Quem perde
mais
se a deputada deixar o partido
A fritura da deputada
federal Tabata Amaral (SP) dentro do PDT ganhou corpo nos últimos dias. O
partido suspendeu a parlamentar e seus sete colegas que votaram a favor do
texto-base da reforma da Previdência. Além disso, declarações públicas contra
Tabata foram feitas pelos dois principais caciques da sigla: o ex-presidenciável
Ciro Gomes e o presidente nacional da legenda, Carlos Lupi. Ciro chegou a
dizer, em tom de ironia, que Tabata deveria se juntar ao Movimento Brasil Livre
(MBL).
Embora a suspensão seja
aplicada de forma igual a todos os "rebeldes" do PDT, o caso de
Tabata Amaral ganhou mais repercussão devido à história de vida da parlamentar
e também por causa da atuação dela no início de legislatura. A deputada se
tornou nacionalmente conhecida após interpelar com firmeza o então ministro da
Educação, Ricardo Vélez Rodrigues, que acabou caindo dias após levar um sermão
da pedetista na Comissão de Educação da Câmara. A empolgação em torno de Tabata
levou até Lupi a apresentá-la, sem o seu conhecimento, como pré-candidata à
prefeitura de São Paulo na eleição de 2020.
Toda a euforia, porém,
acabou com a confirmação do voto de Tabata a favor da reforma da Previdência.
Lupi disse esperar que ela e os outros parlamentares "evoluam" e
mudem de postura no segundo turno da votação, previsto para agosto. No quadro de
hoje, é pouco provável que a deputada prossiga no PDT. E a saída, se
confirmada, pode causar danos expressivos para as duas partes.
O que o PDT perde
Tabata Amaral é uma
estrela em ascensão. Sua trajetória até a eleição em 2018 e os posicionamentos
do início de mandato a inseriram num seleto grupo de parlamentares que
estrearam no Congresso em 2019 e que, ao fugirem da polarização PT-PSL,
encarnaram o espírito da "nova política" desejado pela população.
Ao pressionar Tabata,
portanto, o PDT abre mão de uma figura que tem adquirido relevância nacional.
Há ainda outro desdobramento similar. O presidente pedetista disse que o
partido não mais aceitará candidatos que tenham vinculação com movimentos
sociais suprapartidários – Tabata é ligada ao Acredito, grupo que recebe
recursos, entre outras fontes, do empresário Jorge Paulo Lemann. Com isso, o
partido dispensa possíveis nomes com tendência de destaque nos próximos anos.
Uma expulsão de Tabata e
dos outros "rebeldes" reduziria a bancada do PDT, que iria de 27 para
19 deputados federais. A alteração não mudaria a posição do partido no ranking
de representatividade das siglas da Câmara, que é a 11ª colocação. No entanto,
menos deputados significa menos espaço em comissões, menos poder de negociação
nas barganhas políticas e também menos recursos do fundo eleitoral, considerado
imprescindível pelos partidos após a proibição de doações por pessoas jurídicas.
Outro efeito negativo para
o partido com o desligamento de Tabata é a perda do nome da pedetista para a
disputa da prefeitura de São Paulo. Embora Tabata tenha negado a possibilidade
quando questionada, o PDT via nela uma chance de finalmente ser competitivo em
São Paulo, onde nunca obteve votações expressivas, e também de garantir no
estado um palanque para o projeto de 2022, que é uma nova candidatura
presidencial de Ciro Gomes.
O que Tabata perde
O fim da possibilidade de
candidatura em São Paulo pelo PDT é também prejudicial à deputada. Afinal, a
condição de "estrela" da legenda poderia fazer com que o partido
investisse de modo expressivo em sua campanha. E uma das siglas que abriu as
portas para receber Tabata, o PSDB, já tem candidato para a disputa paulistana,
Bruno Covas, o atual prefeito da cidade.
Embora a deputada tenha
sido eleita com a imagem pouco colada ao PDT, e que no Congresso também não
tenha demonstrado um vínculo dos maiores com a legenda, perder a filiação
partidária é algo que pode afetar seu trabalho como parlamentar. São os
partidos os responsáveis pela indicação dos deputados às comissões – ou seja,
caso Tabata realmente saia do PDT, a sigla poderá escolher outro nome para
ocupar as vagas que a deputada tem hoje. Integrar um partido também possibilita
ao parlamentar dispor de tempo adicional na tribuna da Câmara, se o espaço for
concedido pelo líder.
E caso a deputada queira
concorrer a um novo mandato eletivo – seja à prefeitura paulistana ano que vem,
seja à reeleição ao Legislativo em 2022 – terá de estar vinculada a um partido,
já que a legislação brasileira não permite candidaturas independentes.
Fonte: Gazeta do Povo
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