A Venezuela não é aliada da
Rússia:
é só uma boa freguesa
Anos atrás, quando visitei
São Petersburgo, contratei um guia, chamado Sergei, para me mostrar a cidade e
me ajudar – porque não falo russo. Enquanto visitávamos a orla do Mar Báltico,
lá pelas tantas apareceu um estaleiro, no meio daquelas belezas imperiais
russas. Foi quando Sergei me disse: “Eu adoro o Putin. Gosto muito do nosso
Putin. Mas condeno o que ele está fazendo: aqui dentro desse estaleiro, estão
construindo submarinos para aquele comunista do Chávez” – foi assim que ele
mesmo me disse.
Então, quando as pessoas
falam que chegaram soldados russos à Venezuela, eu explico que não: chegaram
militares russos técnicos, acompanhando o armamento que a Rússia vendeu para a
Venezuela, que é um bom freguês. Agora, a Rússia não vai dar nenhum apoio militar
nesse caso interno da Venezuela.
Nem a Rússia, nem ninguém.
Tem gente ingênua dizendo que os Estados Unidos estão preocupados com o
petróleo da Venezuela. Gente, os Estados Unidos têm petróleo de reserva. Eles
guardam petróleo para quando esse recurso se fizer escasso, se ainda houver uso
para ele – há hoje toda a produção de energia vinda do sol e dos ventos. Enfim,
as pessoas se enganam.
Temos um regime
totalitário na Venezuela – o tal socialismo latino-americano, que não tem nada
a ver com o socialismo escandinavo. É aquele socialismo fajuto do Equador, da
Bolívia, de Cuba, da Nicarágua. Não dá certo. No Mediterrâneo já não deu certo,
como na Grécia e na Espanha. Na União Soviética, com todos os seus poderes
divinos, não funcionou. E, no entanto, é um regime que é o sonho de muitos
brasileiros. Se alguém duvidar, é só olhar as notas oficiais de partidos
políticos de esquerda – não chamo nem de extrema-esquerda, ao contrário deles,
para quem não existe direita, apenas extrema-direita e ultra direita. Esses partidos
apoiam o ditador Maduro. É uma coisa incrível. Fazem isso através de notas, é
claro – não sei por que não vão lá se oferecer como voluntários.
Enfim, tirem da cabeça que
a Rússia – ou o Brasil ou a Colômbia – possam interferir na Venezuela. A menos
que, para desviar as atenções, Maduro invada a Guiana, que tem um território
disputado com a Venezuela, Essequibo. Mas ele não vai fazer isso, porque já tem
muito problema interno. E Maduro só se mantém porque inventou dois mil generais
– a cúpula desses quatro-estrelas está envolvida com ele e sabe que, se Maduro
cair, eles caem também, e caem feio. É isso que segura a situação. Aliás, o que
segura é a relação entre os generais e as suas tropas. Na hora em que as tropas
se dispersarem – não sei nem se isso está acontecendo neste momento – o cenário
será outro.
E Roraima?
No Brasil, Roraima tem
prejuízo agora com a situação da Venezuela, mas a longo prazo terá vantagem. É que
a questão venezuelana chamou a atenção do governo federal para o estado. Por
exemplo, o linhão de energia elétrica está indo para lá, porque já não há a
energia fornecida pela Venezuela. Vai se abrir a possibilidade de fazer
parcerias com a Guiana para a construção de hidrelétricas.
A Guiana vai passar por um
período de crescimento muito grande nesses próximos três anos. A Venezuela está
com 10.000.000% de inflação. É um horror, uma tragédia. Pobre do povo
venezuelano. Vamos esperar para ver o que vai dar do embate entre o presidente
interino, Juan Guaidó, e o ditador Maduro. A Venezuela está com dois
Legislativos, dois Judiciários, dois Executivos e aí há um perigo terrível de
guerra civil – e de derramamento de sangue.
Salvação nacional
Mudando de assunto. Que
interessante: quase não vi nos jornais – tem umas notinhas pequenas – a notícia
mais importante desde que o Real surgiu nos anos noventa. É a medida provisória
881, que praticamente tira o Estado e a burocracia de cima das pessoas que
querem virar empresárias de uma hora para a outra sem precisar de papel. A
medida provisória prevê isso: você pode começar uma empresa sem depender de
cartório, de registro, de carimbo, de alvará, de nada! Vá em frente. Dê uma
olhada nessa medida. Não foi notícia. Parece que a turma dos masoquistas, que
querem o pior para o país, não festejou isso – e é de se festejar. Claro,
admito que ainda não saiu do papel, mas na hora em que isso entrar em prática,
será a salvação nacional, como foi o Plano Real.
Atrasados
Para encerrar, queria
falar do mundo digital de novo. Vi uma exposição de tecnologia e pensei: “Meu
Deus do céu, a gente tá muito atrasado”. Tem moto que anda sozinha, tem carro
que muda de cor. Imagine só esse novo mundo que está aí e nós ainda estamos
discutindo se um aluno pode ou não pode gravar uma aula da professora, que no
fundo não é aula – não ensina sequer gramática, tudo o que quer é ensinar
ideologia: doutrinas ideológicas lá de 1917. Pobre país."
Alexandre Garcia
Gazeta do Povo
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