Um novo rumo para o MEC?
Abraham Weintraub, do MEC |
Os três meses de Vélez custaram um tempo precioso a uma
das áreas mais problemáticas que o governo Bolsonaro deve gerir. Já é quase um
clichê exibir os indicadores que demonstram o quão precária está a educação
brasileira. Nossos estudantes saem do ensino médio sem conseguir alcançar
níveis mínimos de compreensão de texto e tampouco resolvem bem cálculos um
pouco mais difíceis de matemática. Uma situação calamitosa como essa exigiria
uma atuação profissional e eficiente. Competências que não foram
demonstradas pelo atual ex-ministro.
O Ministério da Educação detém o maior orçamento da
União, o que exige por si um bom administrador à frente da pasta. Mas a
complexidade do sistema educacional brasileiro, com suas subdivisões e
corresponsabilidades das esferas estaduais e municipais, seus programas e suas
avaliações já consolidados exigem conhecimentos técnicos muito aprofundados do
sistema. Além de assumir uma pasta cuja responsabilidade é o futuro intelectual
das crianças e jovens, o tamanho do ministério pressupõe muito trabalho e uma
capacidade de gerir um grupo enorme de pessoas.
Mas os problemas educacionais brasileiros não se limitam
apenas a aspectos técnicos. O MEC tinha sido, ao longo dos últimos governos de
esquerda, o meio preferencial pelo qual agendas tidas como “progressistas”
foram levadas adiante. Pautas como ideologia de gênero, educação sexual e
propaganda marxista tiveram destaque durante os governos anteriores, e uma das
preocupações da atual administração, seguindo princípios mais liberais e
conservadores, era dar uma guinada brusca nos temas morais e ideológicos.
O ministro da Educação tem a difícil missão de segurar
duas rédeas ao mesmo tempo: por um lado deve ser técnico e competente para dar
andamento à máquina administrativa do ministério; por outro deve estar alinhado
com as convicções mais conservadoras do novo governo.
A iniciativa do governo de tentar introduzir na educação
uma visão de mundo mais em sintonia com a da população brasileira e a inclusão
de novas políticas de alfabetização e ensino são boas notícias, mas a falta de
habilidade em gerenciar o Ministério da Educação tem causado a impressão de que
não é possível conciliar boas ideias e boa gestão.
Seria lamentável se essa visão se consolidasse. Contudo,
no Brasil, há exemplos de que uma gestão competente pode melhorar
significativamente os indicadores educacionais, sinalizando que a educação
brasileira pode dar certo. Isso demonstra também que no próprio meio
educacional há gente capaz e com o perfil requerido pelo cargo.
Bolsonaro indicou para a pasta o economista Abraham
Weintraub. Por ser alguém que não tem larga experiência com educação, a escolha
preocupa, e muito. O novo ministro é mestre em Administração pela FGV e é visto
como uma pessoa alinhada aos princípios sustentados por Bolsonaro, e igualmente
defende o combate ao “marxismo cultural”. Weintraub já fazia parte do
governo, trabalhando como secretário-executivo da Casa Civil, segundo cargo
mais importante da pasta, e chegou a integrar o governo de transição indicado
pelo Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, com quem trabalhava até
então.
Após três meses de quase inatividade no MEC, a aposta de
Bolsonaro tem de ser certeira. Até agora o trabalho de Weintraub como número
dois da Casa Civil foi executado sem muitos sobressaltos, mas os desafios de
assumir uma pasta tão grande certamente serão muito maiores.
É determinante, portanto, que a sociedade acompanhe os
primeiro passos do ministério e observe quais serão as novas diretrizes e os
principais projetos a serem adotados. A nova gestão do MEC precisa demonstrar
prontamente que não está para amadorismos.
Editorial
Gazeta do Povo
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