Caminhoneiros do RS
compram laudos falsos para conseguir a CNH
Investigação do Ministério
Público de Santa Catarina apurou que laudos eram vendidos em laboratório de
Criciúma a motoristas usuários de drogas. Diretor do Detran RS garantiu que vai
bloquear CNH de caminhoneiros envolvidos na fraude. (Foto: Reprodução)
Caminhoneiros de seis
cidades do Rio Grande do Sul compravam laudos toxicológicos falsos para
garantir o resultado negativo do exame, segundo investigação do Ministério
Público de Santa Catarina. O exame antidrogas é obrigatório para tirar ou
renovar a carteira de motorista de ônibus ou caminhão.
De acordo com o MP-SC, os
caminhoneiros gaúchos identificados são de Alegrete, Flores da Cunha, Osório,
São Sepé, Caxias do Sul e Três Cachoeiras. O promotor de Justiça responsável
pela investigação, Gustavo Wiggers, diz que eles pagaram até R$ 1,2 mil em troca
do resultado negativo.
"Ao longo da
investigação, constatamos que existia um laboratório em Criciúma [Santa
Catarina] que estava promovendo a venda de exames com garantia de resultado
negativo", explica Wiggers.
Os clientes eram
motoristas usuários de drogas. Um deles admite consumir a droga rebite e diz
ter comprado o exame. "Precisava para cumprir os horários de carga que eu
tinha que descarregar", justifica o motorista.
Os caminhoneiros sequer
entregavam o material para a análise. Sem saber que estava sendo gravada pela
equipe da RBS TV, uma
ex-funcionária do laboratório revela que coletava fios de cabelo em um salão de
beleza que frequentava.
"Era um cabelo que
não fosse de pessoas drogadas, né?", explica a mulher.
O valor mínimo cobrado por
ela era de R$800. "O caminhoneiro entrava em contato com ela, encaminhava
a ela apenas a foto do documento e realizava o pagamento", diz o promotor
Wiggers.
"Ela preenchia as
guias de exame com os dados desses motoristas e, posteriormente, encaminhava
material genético de outras pessoas ao laboratório para constatação ou não da
presença de substância tóxica", completa o promotor.
Detran promete bloqueio de CNH
O diretor do Detran do Rio
Grande do Sul diz que vai bloquear a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) dos
caminhoneiros envolvidos na fraude.
"Nós estamos buscando
junto ao Ministério Público de Santa Catarina uma cópia da denúncia para
identificarmos os nomes dos motoristas gaúchos que estejam trafegando fora da
lei. Em cima disso, nós vamos chamá-los para que, num prazo curto, façam um
novo exame toxicológico e, em cima desse novo exame, poderemos caçar ou não
essa carteira de motorista", garante Enio Bacci, diretor-geral do
Detran/RS.
O objetivo é evitar que
motoristas usuários de drogas coloquem em risco a vida de milhares de pessoas
nas estradas.
"Eu usei tudo quanto
foi tipo de droga. Rebite, cocaína, crack, álcool, principalmente, também, né?
No momento em que eu me drogava, parecia que eu era um piloto, que eu queria
acelerar, acelerar, acelerar", relata o ex-caminhoneiro Adalberto de
Azambuja, que atualmente passa por um tratamento contra a dependência química
numa fazenda de Gravataí.
Estudos mostram que
diferentes drogas produzem consequências diferentes, mas não existe droga
psicoativa que não produza algum efeito no processo de dirigir.
"Todo o processo de
direção que o motorista executa vai ficar afetado pelas diferentes substâncias
que ele possa ter usado. A competência dele de fazer manobras, manter-se na
linha, estimar distância, estimar a capacidade de fazer uma ultrapassagem,
acelerar de forma correta, respeitar a distância de outro veículo fica bastante
afetada pelas diferentes drogas", defende o psiquiatra diretor do Centro
de Pesquisas em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Flávio
Pechansky.
Giovani Grizotti
RBS TV
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