Acusado de abuso sexual por diversas mulheres
de todo o País e no exterior, o médium João de Deus teve a prisão preventiva
decretada na sexta, 14, e se entregou à polícia neste domingo, 16. Os casos de
abuso sexual vieram a público após 13 mulheres relatarem as denúncias no sábado
(8) durante o programa Conversa com Bial, da TV Globo, e ao jornal O
Globo.
Na segunda (10), Aline Saleh, 29 contou sua
história à Folha de S.Paulo:
"Quem tem de sentir vergonha é ele, e não
eu". Ela diz que, em 2013, esteve na casa e que foi levada para um
banheiro, posta de costas e que João de Deus colocou a mão dela em seu
pênis.
No início da semana a Promotoria chegou a
criar uma força-tarefa para recolher as inúmeras denúncias de abusos sexuais
contra o médium.
Quantas denúncias foram feitas?
Segundo a Promotoria, 335 contatos já foram
recebidos, com mensagens principalmente por e-mail, incluindo também outros
seis países (Alemanha, Austrália, Bélgica, Bolívia, Estados Unidos e
Suíça).
Também foram colhidos os depoimentos de 30
pessoas nos Ministérios Públicos de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul,
Distrito Federal e Espírito Santo.
O que as vítimas alegam?
Em comum, a maioria das mulheres diz que
recebeu um aviso para procurar o médium em seu escritório ao fim das sessões em
que ele atende os fiéis.
No local, segundo as vítimas, João de Deus
dizia que elas precisavam de uma “limpeza espiritual” antes de abusá-las
sexualmente.
De quais crimes o médium é
acusado?
Os crimes em apuração são os de estupro e
posse sexual mediante fraude (usar a fé para obter sexo).
Quem são as vítimas?
Entre as vítimas estariam mulheres adultas,
adolescentes e até crianças.
Quais as provas contra o médium?
O promotor Luciano Miranda Meireles afirmou
que os depoimentos podem ser a única forma de comprovar as acusações, já que
crimes como estupro não ocorrem à luz do dia nem têm testemunhas.
O que diz a defesa do religioso?
João de Deus negou em depoimento qualquer tipo
de culpa nos abusos sexuais dos quais é acusado e sua defesa tentou
desqualificar as denunciantes. "Ele não admite [envolvimento]",
afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, que acompanhou
a oitiva.
O médium falou por mais de duas horas a duas
delegadas. Segundo Fernandes, ele respondeu a todas as perguntas e se recordou
de alguns atendimentos feitos a mulheres que o denunciaram.
O suspeito disse que a regra era recebê-las
coletivamente, e não em recintos individuais, como consta dos relatos de
supostas vítimas.
Alguns dos crimes prescreveram?
A delegada Karla Fernandes, responsável pela
investigação de supostos abusos sexuais cometidos por João de Deus, disse nesta
segunda (17) que o médium não vai responder pela maioria dos crimes dos quais é
suspeito.
Os 15 casos sob análise da Polícia Civil de
Goiás, segundo ela, se referem a posse sexual mediante fraude (no caso
específico, usar da fé das mulheres para cometer atos libidinosos com
elas).
Até setembro deste ano, segundo a
investigadora, a lei previa um prazo decadencial (para a denúncia ser feita) de
até seis meses após a data do fato. Mas quase todos eles são antigos e a
comunicação não se deu em tempo hábil.
Houve mudança na legislação penal e, somente
desde aquele mês, o prazo decadencial não existe mais para esse crime. A
mudança não se aplica aos casos anteriores, pois a lei brasileira não permite
que uma regra nova retroaja para prejudicar o réu.
Outra vítima cujas acusações foram colocadas
em xeque é uma das filhas de João de Deus, que disse ter sido abusada pelo
médium ainda quando era criança. Depois que o vídeo ganhou as redes sociais,
ela gravou um outro depoimento negando o primeiro, mas, recentemente, disse ter
sido coagida a fazê-lo. O criminalista afirmou que a filha tem um passado de "internações"
e, justificou, que, por isso, João de Deus aceitou fazer um acordo na
Justiça.
Gazeta do Povo
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