segunda-feira, 26 de novembro de 2018

➤Venezuela: escolas fecham as portas

Professores e alunos deixam salas de aula


Um dos efeitos mais deletérios da crise pela qual passa a Venezuela é a pane na educação. Professores e alunos, com fome e sem dinheiro, abandonaram as salas de aula e as escolas, principalmente as particulares, fecharam as portas. A extensão do estrago, porém, é ainda desconhecida: em 2003, Maduro deixou de fazer pesquisas sobre a qualidade da educação no país e, desde então, se nega a participar de avaliações internacionais. Compreensível.

Na classe média, a redução do poder de compra criou um êxodo de estudantes de escolas privadas para escolas públicas. As instituições que conseguem permanecer em meio à crise recebem os estudantes das escolas fechadas e veem as salas de aula lotarem.  As turmas de uma escola em Caracas, por exemplo, cresceram de 30 para 50 alunos.

"Com o salário mínimo 35 vezes maior e a proibição de aumentar as mensalidades, os proprietários de uma escola particular que fechou (localizada em um setor historicamente de classe média) não teriam dinheiro suficiente para pagar seus empregados”, conta Bráulio 
Polanco em artigo no jornal local Caracas Chronicle. O fenômeno é crescente: neste ano, pelo menos 400 escolas particulares fecharão as portas devido à falta de alunos, que estão saindo da rede privada e se matriculando em escolas públicas, de acordo com dados da Associação Nacional de Instituições de Ensino Particular em Caracas.

A rede pública também está perdendo alunos: com cortes de energia, água, escassez de comida e falta de transporte, quase três milhões de crianças deixaram de ir à escola regularmente ou evadiram, de acordo com o estudo Encovi (Encuesta sobre Condiciones de Vida en Venezuela), desenvolvido por três universidades venezuelanas.


“As escolas e os liceus encontram-se em condições precárias, sem laboratórios e com dificuldades em obter serviços públicos básicos como produto de uma política que coloca a qualidade da educação como a última das suas prioridades”, aponta Túlio Ramirez, especialista em educação da Universidade Central da Venezuela.

Em Caucagua, cidade a aproximadamente 75 quilômetros de Caracas, a escola pública Miguel Acevedo, atendeu a três do total de 65 alunos do ensino fundamental, segundo a diretora Nereida Veliz. Ela ressalta que os alunos perdem em média metade dos 200 dias letivos, e é por isso que o desempenho escolar no país “é bastante baixo”.

A definição do desempenho baixo, entretanto, como já foi dito, é obscura: desde 2003, o governo socialista eliminou o Sistema Nacional de Avaliação de Aprendizagem (SINEA), órgão do Ministério da Educação encarregado de monitorar o desempenho dos estudantes venezuelanos. Ao mesmo tempo, o governo de Hugo Chávez se recusou a participar de testes internacionais para medir o desempenho dos estudantes, como o teste Pisa. “Em termos de avaliação e desempenho dos alunos, o país está totalmente no escuro”, diz Ramirez. “O governo criou um sistema escolar pobre para os pobres”, ressalta.


"Um dos motivos para os pais pararem de mandar os filhos para a escola é a fome que já assola 3,7 milhões de pessoas no país. A inflação atinge 1.000.000% ao ano, um recorde mundial; 61% da população vive em situação de extrema pobreza; 81% diz não ter dinheiro para comprar comida suficiente para se alimentar; 64% perdeu pelo menos 11 kg nos últimos anos.

“A desnutrição afeta gravemente os alunos porque causa falta de concentração, incapacidade de atingir habilidades acadêmicas e suas habilidades cognitivas estão sendo seriamente afetadas”, diz Elvira Ojeda, do Movimiento Padres Organizados de Venezuela, organização de pais e representantes de escolas públicas e privadas. Segundo ela, casos de desmaio dos alunos durante o horário escolar devido à falta de comida são constantes – e também ocorre em menor grau no corpo docente.

Gazeta do Povo

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