O Senado aprovou ontem (7)
o salário dos ministros do STF. Cada um passa a ganhar, mensalmente, mais de R$
39 mil, ou seja, mais ou menos 40 salários mínimos. Entenderam?
Um operário que, aqui em
Porto Alegre, mora na Restinga e trabalha na Zona Norte, por exemplo, tem que
levantar por volta de cinco horas da manhã, pegar duas conduções, normalmente
lotadas, carregar uma marmita com arroz, ou massa, feijão e, em alguns casos,
um pedaço de carne, uma garrafa com café preto e ficar contente por ter
trabalho e comida para o dia inteiro. Às seis da tarde repete a rotina de
volta. Cansado, mas pronto para fazer tudo novamente no dia seguinte, de
segunda até sexta, muitas vezes no sábado de manhã!
Um ministro do STF, que
ganha quarenta vezes mais do que o operário, vai para seu gabinete de carro,
gasolina e motorista pagos por nós, normalmente por volta de 10 da manhã, pede
para a secretária ligar o ar condicionado, é servido de café e água gelada por
um garçom, muito bem pago por nós, despacha os processos, passa suas decisões
para uma funcionária, muito bem paga por nós, que transfere tudo para o
computador. Normalmente almoça num restaurante próprio do Supremo e, se tiver
sessão, fica até mais tarde. Se o assunto for de interesse geral, chega a
trabalhar até tarde diante de câmeras de televisão que mostram para todos seus
intermináveis votos repletos de termos jurídicos que a maioria não entende.
Quando termina seu
exaustivo trabalho, o carro, está à sua disposição com tanque cheio de gasolina
e com motorista que receberá polpudas horas extras por estar o dia inteiro
parado cumprindo sua cansativa tarefa.
Ao chegar em casa, paga
por nós, o ministro tira o paletó, pago por nós, toma uma ducha e vai desfrutar
de um jantar ao lado da mulher e dos filhos, se tiver mulher e filhos. Tudo
para receber ao final de cada mês, míseros R$ 39 mil reais.
E o ministro Gilmar
Mendes, aquele que todos nós conhecemos, afirmou que o aumento concedido ontem
foi justo, pois os ministros ganham muito pouco e merecem ganhar mais.
Não acreditou? Leia o
parágrafo acima novamente e tantas vezes quantas forem necessárias para que a
senhora e o senhor fiquem convencidos de que Gilmar Mendes considerou o
reajuste dele e seus colegas, justíssimo.
Não quero ser ingênuo para
não considerar que um é diferente do outro em pontos fundamentais, mas não
necessariamente justos. Um estudou, é formado, foi indicado por alguém que
tinha, ou tem, interesse em sua
nomeação, enquanto o outro não teve a mesma ‘sorte’. Mas ambos são brasileiros
iguais, gente igual, e salários infinitamente diferentes.
Num Brasil onde tem gente
que sobrevive em barracos sem qualquer tipo de saneamento, sem água, sem
comida, sem estudo, vivendo ao lado de valos imundos por onde corre o esgoto,
convivemos com a injustiça de ver e ouvir um ministro do STF achar que ganha
pouco. esquecendo de seus semelhantes.
Hoje, enquanto o operário pensa no quanto é feliz
em receber um salário mínimo ou um pouco mais, mas tem emprego, colégio público,
SUS e uma marmita com arroz ou massa, feijão e talvez um pedaço de carne, o
ministro Gilmar Mendes, enquanto saboreia um café impossível ao operário, deve
estar pensando no quanto é difícil viver com um salário de R$ 39 mil por mês.
Para ele, o aumento vai permitir enfrentar as tremendas dificuldades mensais.
Enquanto aguardo o pronunciamento
dos que pregam a resistência, não consigo esquecer das palavras do ministro
afirmando que o aumento foi merecido. Merecido?
Machado Filho
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