quinta-feira, 8 de novembro de 2018

➤BOM DIA!

Aumento merecido. Merecido?

O Senado aprovou ontem (7) o salário dos ministros do STF. Cada um passa a ganhar, mensalmente, mais de R$ 39 mil, ou seja, mais ou menos 40 salários mínimos. Entenderam?

Um operário que, aqui em Porto Alegre, mora na Restinga e trabalha na Zona Norte, por exemplo, tem que levantar por volta de cinco horas da manhã, pegar duas conduções, normalmente lotadas, carregar uma marmita com arroz, ou massa, feijão e, em alguns casos, um pedaço de carne, uma garrafa com café preto e ficar contente por ter trabalho e comida para o dia inteiro. Às seis da tarde repete a rotina de volta. Cansado, mas pronto para fazer tudo novamente no dia seguinte, de segunda até sexta, muitas vezes no sábado de manhã!

Um ministro do STF, que ganha quarenta vezes mais do que o operário, vai para seu gabinete de carro, gasolina e motorista pagos por nós, normalmente por volta de 10 da manhã, pede para a secretária ligar o ar condicionado, é servido de café e água gelada por um garçom, muito bem pago por nós, despacha os processos, passa suas decisões para uma funcionária, muito bem paga por nós, que transfere tudo para o computador. Normalmente almoça num restaurante próprio do Supremo e, se tiver sessão, fica até mais tarde. Se o assunto for de interesse geral, chega a trabalhar até tarde diante de câmeras de televisão que mostram para todos seus intermináveis votos repletos de termos jurídicos que a maioria não entende.

Quando termina seu exaustivo trabalho, o carro, está à sua disposição com tanque cheio de gasolina e com motorista que receberá polpudas horas extras por estar o dia inteiro parado cumprindo sua cansativa tarefa.

Ao chegar em casa, paga por nós, o ministro tira o paletó, pago por nós, toma uma ducha e vai desfrutar de um jantar ao lado da mulher e dos filhos, se tiver mulher e filhos. Tudo para receber ao final de cada mês, míseros R$ 39 mil reais.

E o ministro Gilmar Mendes, aquele que todos nós conhecemos, afirmou que o aumento concedido ontem foi justo, pois os ministros ganham muito pouco e merecem ganhar mais.

Não acreditou? Leia o parágrafo acima novamente e tantas vezes quantas forem necessárias para que a senhora e o senhor fiquem convencidos de que Gilmar Mendes considerou o reajuste dele e seus colegas, justíssimo.

Não quero ser ingênuo para não considerar que um é diferente do outro em pontos fundamentais, mas não necessariamente justos. Um estudou, é formado, foi indicado por alguém que tinha, ou tem,  interesse em sua nomeação, enquanto o outro não teve a mesma ‘sorte’. Mas ambos são brasileiros iguais, gente igual, e salários infinitamente diferentes.

Num Brasil onde tem gente que sobrevive em barracos sem qualquer tipo de saneamento, sem água, sem comida, sem estudo, vivendo ao lado de valos imundos por onde corre o esgoto, convivemos com a injustiça de ver e ouvir um ministro do STF achar que ganha pouco. esquecendo de seus semelhantes.

Hoje,  enquanto o operário pensa no quanto é feliz em receber um salário mínimo ou um pouco mais, mas tem emprego, colégio público, SUS e uma marmita com arroz ou massa, feijão e talvez um pedaço de carne, o ministro Gilmar Mendes, enquanto saboreia um café impossível ao operário, deve estar pensando no quanto é difícil viver com um salário de R$ 39 mil por mês. Para ele, o aumento vai permitir enfrentar as tremendas dificuldades mensais.

Enquanto aguardo o pronunciamento dos que pregam a resistência, não consigo esquecer das palavras do ministro afirmando que o aumento foi merecido. Merecido?

Machado Filho

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