Luiz Inácio
Lula da Silva foi suplantado por Jair
Bolsonaro neste domingo. Esta é a grande fotografia que fica do
resultado do segundo turno. Fernando Haddad sempre
foi um dublê de corpo numa eleição que desde cedo se tornou plebiscitária entre
o lulismo e o antilulismo.
Condenado em segunda
instância por corrupção e lavagem de dinheiro, preso desde abril, Lula achou
que ditaria, da carceragem da Polícia Federal em Curitiba, o resultado da
eleição. Seu peso na política brasileira foi suficiente para levar Haddad ao
segundo turno, contra o adversário que ele escolheu lá atrás e que achou que
era inelegível, dada a alta rejeição que tinha.
Bolsonaro fez aposta
semelhante, com sinal trocado. Enxergou o fastio com o PT ainda antes do
impeachment de Dilma Rousseff, e soube semear este campo com discurso radical
que escanteou o PSDB e tirou do partido o papel de polo opositor ao petismo,
que ocupava havia mais de duas décadas.
A maioria do eleitorado
brasileiro comprou o discurso de Bolsonaro, o mesmo que choca a outra quase
metade que não o sufragou. O resultado dessa guinada é a eleição do primeiro
presidente assumidamente de direita desde Fernando Collor – que, embora tenha
feito campanha prometendo abertura econômica, não tinha cores tão acentuadas de
conservadorismo nos costumes, nem uma contraposição ideológica tão nítida.
A guinada é mais ampla que
a eleição de Bolsonaro: o novo Congresso e o comando dos principais Estados
também penderam para a direita. Isso terá reflexos nas principais decisões
econômicas e na pauta de segurança e dos costumes que o futuro presidente vai
endereçar.
Por fim, se coloca a
dúvida quanto ao respeito do eleito à democracia e às instituições. Em seu
primeiro discurso escrito depois de eleito, Bolsonaro fez um aceno à
conciliação ao dizer que governará para todos os brasileiros, mencionou
inúmeras vezes a palavra “liberdade” e falou com todas as letras que fará
reformas para recuperar a grave situação fiscal que encontrará. É um começo
auspicioso, pois o candidato, ao longo da campanha, deu margem para dúvida
quanto a esses compromissos – que ele categorizou como “promessa”.
Vera Magalhães - Estadão
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