Eliane Cantanhêde
Enquanto Fernando Haddad
(PT) não perde uma chance de reforçar que é pau-mandado do ex-presidente Lula,
Jair Bolsonaro (PSL) faz o contrário e põe nos seus devidos lugares o vice,
general Hamilton Mourão, e o “Posto Ipiranga”, economista Paulo Guedes.
Do hospital, onde continua
ativo nas redes sociais, o capitão Bolsonaro cortou as asinhas do general
Mourão, que estava doido para substituir o paciente em debates e sabatinas – ou
seja, assumir o papel de candidato à Presidência. Bolsonaro foi direto: ou ele
vai pessoalmente aos debates, ou ninguém vai.
Também cuidou de conter os
arroubos do economista Paulo Guedes, que defende imposto único e avançou o
sinal ao admitir a recriação da CPMF. “Chega de impostos”, bradou Bolsonaro,
tarde demais. Os adversários estão fazendo uma festa e reforçando a percepção
de que, como o candidato não entende nada de economia (aliás, não só de
economia...), o governo seria, na prática, de Guedes. Ou do general, que já
defendeu intervenção militar.
Todo o episódio confirma o
alerta do economista Persio Arida: que o “estatizante e corporativista”
Bolsonaro vai para um lado e o privatizante e liberal Guedes vai para o outro.
E aí, que governo sai dessa confusão, caso subam a rampa do Planalto? Ou, como
indagam os apressados do mercado, que pularam cedo na campanha Bolsonaro por
medo do PT: “E a autonomia do Guedes?”. Não é tanto assim, até porque
presidente é presidente, ministro da Fazenda é muito importante, mas é só
ministro.
Do lado oposto, Lula é a
força e a fraqueza de Haddad. A mais contundente confirmação disso foi a forma
tortuosa e sofrida com que reagiu à pressão para dizer se, eleito, iria ou não
tirar Lula da cadeia via indulto. Foram muitos talvez, quem sabe, muito pelo
contrário, até que o governador de Minas, Fernando Pimentel, disse o que parece
óbvio: sim, Haddad no Planalto significa Lula fora da cadeia.
Do ponto de vista
eleitoral, trata-se do clássico “pregar para convertidos”, porque a ideia
agrada a quem já naturalmente vota no PT. E não atrai votos de quem até
simpatiza com o jeitão de Haddad, mas não é petista e não quer soltar Lula a
qualquer custo, muito menos admite a volta dele no tapetão.
Foi por isso que, na
milésima vez que lhe perguntaram a mesma coisa, Haddad jogou a toalha e
garantiu que não, não vai dar indulto a Lula. Se é verdade ou não, não se sabe,
mas ele mandou um recado para Pimentel, que teve de se retratar: ninguém fala
por ele (a não ser Lula, claro).
Com essa balbúrdia, os
dois favoritos dão farta munição a Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e
Marina Silva (Rede). “O Brasil não aguenta mais um presidente fraco, que tenha
de consultar o seu mentor”, atacou Ciro, ao lembrar o desastre Dilma Rousseff,
outro “poste” de Lula. Ciro perdeu o segundo lugar para Haddad, mas tem uma
vantagem sobre Alckmin e Marina: não caiu. Assim, se torna a opção mais à mão
em caso de uma onda pelo “voto útil” de centro, contra os extremos.
Marina insiste numa
campanha considerada elegante por uns e ingênua por outros, enquanto perde
votos principalmente para Haddad. Ao contrário, Alckmin acordou, deu um pulo da
cama e partiu para a guerra contra Bolsonaro e, no rastro, também contra
Haddad. Suas peças na TV agora são duras, com cenas fortes, fazendo até conexão
entre o Brasil e a Venezuela e entre Bolsonaro e Chávez. E foram reforçadas por
uma carta de Fernando Henrique Cardoso contra a polarização.
Parece improvável que a
guinada reverta a favor de Alckmin, mas pode quebrar a convicção antecipada de
que a eleição será entre Bolsonaro e Haddad. No mínimo, é um alerta sobre o que
pode vir por aí.
Portal Estadão – 21/09/2018
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