Por que o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva desistiu do pedido para ser solto pelo Supremo
Tribunal Federal (STF)? De acordo com o próprio PT, porque o plenário
aproveitaria para discutir a legalidade de sua candidatura – e ele poderia ser
declarado inelegível.
Como não há possibilidade
de recurso de uma decisão tomada pelo plenário do Supremo, ele preferiu ficar
preso. Mas Lula não será declarado inelegível de qualquer forma mais adiante?
Será, assim que o registro de seu nome for impugnado pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), com base na Lei da Ficha Limpa. Que diferença faz então?
Muita.
Para a população, o ideal
seria conhecer todos os candidatos logo, se possível desde o encerramento do
prazo para a definição dos nomes, esgotado ontem. Para Lula, o cálculo é
diferente. A prisão se tornou um ingrediente essencial na estratégia eleitoral
petista.
Isso resulta de um
paradoxo. Ao mesmo tempo que despertou as manifestações populares que
desencadearam impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a Operação Lava Jato
contribuiu para elevar a popularidade de Lula. Permitiu à propaganda do PT
adotar o discurso – eficaz – de que ele é vítima de injustiça e perseguição.
Será essa também a alma da
campanha eleitoral petista. Desde já, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad,
vice provisório na chapa encabeçada por Lula, foi apresentado como a “voz” que
representa o candidato preso, a clamar por justiça e pelo resgate das políticas
que, na visão do petismo, representam os maiores êxitos da Era Lula.
Quanto mais puder disseminar
a versão da perseguição, acredita o PT, mais Lula terá o poder de transformar
sua popularidade em votos para Haddad. E a perspectiva de poder é, para Lula e
para o PT, bem mais importante que a perspectiva de ele ser solto. Mesmo que
sua libertação pudesse representar a justiça a que almejam.
O paradoxo é mais que
aparente. Revela o dilema essencial a atormentar o prisioneiro Lula. Como ele é
mais valioso para a campanha de Haddad? Solto, subindo em palanque ou, ao
menos, podendo gravar mensagens para o horário gratuito na televisão? Ou preso,
para manter viva entre seus acólitos a esperança e que possa, ele mesmo, ser
candidato e voltar ao poder nos braços do povo?
Por ora, Lula prefere
ficar na cadeia. A manutenção da ilusão e da fantasia lhe parece mais preciosa
que a liberdade. Se puder mantê-la até o final do mês, às vésperas da estreia
da campanha televisiva, ele transformará o debate eleitoral até lá numa
discussão sobre a candidatura Lula – e isso pode render votos.
Se, ao contrário, ele
fosse solto ou apenas declarado inelegível desde já, o discurso da vitimização
estaria esvaziado. Os adversários do PT passariam a concentrar seus ataques em
Haddad, e Lula passaria do noticiário político para o policial.
O que Lula quer é manter
seu nome nas primeiras páginas e na boca do povo. Quer poder controlar o
momento em que desistirá da candidatura em prol de Haddad. Quer poder
transformá-lo em showmício, como fez com sua prisão. O que Lula não quer é se
submeter a uma decisão ágil e definitiva do Supremo, que lhe impeça de manter o
controle sobre o passo da campanha.
Mas isso não extingue o
dilema. A candidatura Haddad – a única real e viável – ainda patina nas
pesquisas. O poder de transferência de voto de Lula é uma incógnita. Sem
começar a pensar desde já numa campanha capaz de eleger seu único candidato
viável, o PT corre o risco de nem passar ao segundo turno.
Mesmo sem Duda Mendonça
nem João Santana, o discurso básico da campanha petista deveria ser óbvio a
qualquer marqueteiro: resgatar o “esplendor” e o “passado glorioso” dos
governos petistas (lembre que a verdade não é exatamente a alma do marketing
político…).
Sabe-se lá se isso
convence o eleitor depois de Mensalão, Lava Jato e dos crimes fiscais que
levaram à queda de Dilma. Mas insistir conversa de vitimização do presidiário é
uma estratégia ainda mais frágil. Pode até agradar a militância ou o eleitor já
convencido, mas não atrai um único voto a mais para Haddad. A teimosia pode
custar caro ao próprio PT.
Portal G1
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