Sabe aquela história do
“falem mal, mas falem de mim”? É exatamente o que ocorre com o ex-presidente
Lula, que está preso em Curitiba, mas corre livre, leve e solto na mídia. É
pelo “recall” do seu governo, mas também pelo excesso de exposição, que Lula se
mantém disparado na liderança do Ibope, apesar de ser flagrantemente
inelegível.
A cada habeas corpus, Lula
ganha boa visibilidade tanto no pedido quanto na negativa. Quando o
desembargador Rogério Favreto deu uma canetada para soltá-lo, Lula ganhou
sucessivas manchetes ao longo de um domingo inteiro, com a decisão de Favreto,
a reação do juiz Sérgio Moro, as negativas do relator e do presidente do TRF-4,
a nota da presidente do STF, Cármen Lúcia.
E a intensa exposição
continuou ao longo da semana, com as cacetadas da presidente do STJ, Laurita
Vaz, e da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Sem contar as
reportagens, colunas, análises e entrevistas que inundaram a mídia brasileira.
Só se falava em Lula.
E continua assim. Tem
greve de fome de militante, manifestação vermelha parando o trânsito na capital
da República, o mais do que polêmico registro da chapa, a dúvida sobre quem
seria relator dos dez pedidos de impugnação. Até um comitezinho técnico de um
órgão da ONU ganha primeiras páginas. E o que já se disse e se escreveu sobre
Lula e Fernando Haddad?
É assim que Lula, sem tirar
o pé da cela, continua crescendo como candidato que ele efetivamente não é. No
último Ibope, tinha 33%, agora tem 37%, enquanto os demais continuam
praticamente congelados, oscilando dentro da margem de erro. Jair Bolsonaro se
consolidou com 18%, Marina Silva tem 6%, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin estão
empatados em 5%, e Alvaro Dias fica em 3%. Ou seja, Marina, Ciro e Alckmin
estão embolados.
Lula conseguirá transferir
seu imenso capital de votos para o “vice” Haddad, que aparece com apenas 4%?
Sem Lula, o que aumenta é o estoque de votos brancos, nulos e indecisos (38%),
enquanto os demais candidatos, à exceção de Dias, beliscam votos do
ex-presidente. Até Bolsonaro e Alckmin ganham dois pontos cada, e Ciro Gomes,
quatro. Mas quem mais lucra é Marina, que dobra seu porcentual. Com Lula, ela
tem 6%; sem ele, 12%.
Entram aí dois fatores
relevantes. Um é que Marina foi do PT, ministra do governo Lula, e é a terceira
vez que disputa a Presidência. Outro é que a biografia dela não fica nada a
dever à dele: cabocla nortista, também nasceu pobre, num seringal no Acre, foi
alfabetizada já na adolescência e é vista pelo eleitorado como “gente como a
gente”. De quebra, Marina Silva é a única mulher no pelotão de frente da
sucessão e é a que tem o maior porcentual de votos femininos.
É assim que a eleição vai
chegando ainda indefinida até o início da propaganda no rádio e na televisão, a
partir do dia 31, com Haddad correndo contra o tempo e uma disputa
acirradíssima entre o cristalizado poder eleitoral da TV e o emergente poder
eleitoral das redes sociais que transformaram Bolsonaro no fenômeno da campanha
de 2018.
Contra o crescimento de
Haddad e a consolidação de Bolsonaro trabalham Ciro e Marina, que perderam a
guerra pelas alianças, e Alckmin, que tem várias vezes mais tempo na TV e mais
estrutura de campanha. É exatamente por isso que Ciro e Marina deixam Haddad e
Bolsonaro para lá e focam suas baterias contra o tucano. Querem impedir que
cresça.
Significa que, na
tentativa de isolar Alckmin, Marina, Ciro e também Alvaro Dias podem estar
trabalhando efetivamente para garantir o segundo turno entre Bolsonaro e
Haddad. Os três não têm força para ganhar, mas têm para derrotar o PSDB e,
enfim, eleger PT ou Bolsonaro.
Portal Estadão, em
21/08/2018
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