Vera
Magalhães
Toffoli assessorou PT no tempo em que o
partido monopolizava discurso anticorrupção; Foto: Dida Sampaio/Estadão/Reprodução
À
sombra desses caciques, assessores parlamentares do PT, como foi um dia o jovem
José Antonio Dias Toffoli – que começou sua carreira no petismo na CUT, passou
pela Assembleia Legislativa de São Paulo, pela Câmara e chegou ao Planalto com
a eleição de Lula –, eram fontes disputadas pela imprensa pelo que levantavam
de irregularidades em governos aos quais o partido fazia oposição.
Treze
anos de governo de dois presidentes do PT, um impeachment, mensalão e petrolão
depois, o que se vê é a esquerda brasileira chegar às urnas tendo abdicado sem
titubear à discussão sobre combate à impunidade, reforço nas leis de combate à
corrupção – muitas aprovadas no governo Lula – e compromisso com a
transparência na gestão pública.
Atados
irremediavelmente à “narrativa” de que Lula e o partido são vítimas de
perseguição da Justiça, da Polícia Federal, do Ministério Público, do Congresso
e sabe-se lá de quantas outras instituições, os petistas renunciaram, até, a
louvar decisões que atingem adversários, como Eduardo Azeredo, ex-grão-tucano
condenado e preso como Lula, ou Eduardo Cunha, algoz de Dilma Rousseff e sem
nenhuma perspectiva de soltura.
Fazê-lo
significaria reconhecer que há uma nova perspectiva, que nasce da PF, do MPF e
das instâncias iniciais do Judiciário, de utilizar os mecanismos disponíveis
nas leis e nos códigos para garantir que crimes do colarinho-branco (de
quaisquer partidos) sejam efetivamente pagos e seus praticantes, punidos.
A
esperança dos partidos que antes empunhavam a bandeira da ética nos palanques e
nos programas do horário eleitoral é que seu líder máximo conte com uma ajuda
na undécima hora de ministros de uma Corte cindida, como é hoje o STF, para
poder concorrer à Presidência da República. Mas Lula foi condenado em duas
instâncias, e o STF não pode rever a condenação, apenas mexer eventualmente na
pena ou no regime de cumprimento. Os petistas não se importam.
Outras
condenações podem vir em vários processos a que Lula responde. Perseguição,
repetem. Mas a Lei da Ficha Limpa fala em condenação por colegiado – o que Lula
já tem – e não em condenação final. Golpe, só para tirar Lula do pleito.
Divorciada
da própria história, a esquerda abre mão de dialogar com o conjunto da
sociedade, que elegeu a corrupção como assunto central em 2018. Trata-se de uma
decisão que cobrará um preço maior que a pena deste ou daquele companheiro.
Portal
ESTADÃO
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