Eliane Cantanhêde
Jair Bolsonaro e Geraldo
Alckmin estão em situações exatamente opostas na corrida pela Presidência.
Bolsonaro tem sólidas intenções de voto, mas não apoios políticos e garantia de
governabilidade. Alckmin é o contrário: tem sólidos apoios políticos, mas precisa
revertê-los em intenções de voto.
Sob outra ótica, o capitão
reformado do Exército é o outsider numa campanha marcada pela irritação e pelo
desprezo pela política. Já o ex-governador de São Paulo é o candidato do
“sistema”, ou do status quo, aquele que transmite segurança em meio a tantas
crises e a tanta insegurança na política e na economia. Notícia boa para a
campanha do tucano equivale a notícia boa nas Bolsas e no mercado de câmbio.
Bolsonaro dialoga
diretamente com o eleitor e a eleitora, numa linguagem que eles entendem e
replicam. Alckmin discursa para o mercado, o mundo político, os formadores de
opinião. Nesse confronto, Bolsonaro tentava uma pressão de baixo para cima:
usar seu apoio popular para conquistar apoio político. Não deu certo. E Alckmin
passa a tentar uma pressão de cima para baixo: usar seu apoio
político-partidário para conquistar votos populares. Dará certo?
A pergunta-chave para
Bolsonaro vem do alerta feito pela peculiaríssima professora Janaina Paschoal,
cotada para ser sua vice: sem alianças e sem ampliar o diálogo, como Bolsonaro
vai garantir condições de governabilidade, caso eleito? Isso não é brincadeira,
é muito sério. Já a pergunta-chave para Alckmin é, mais uma vez, no sentido
oposto: ser o candidato do “sistema”, dos mercados, da elite e do Centrão atrai
ou afasta votos? Engrossa ou não os porcentuais nas pesquisas?
Outra diferença gritante é
que Bolsonaro deu de ombros para a mídia tradicional e chegou à liderança das
pesquisas (atrás apenas do ex-presidente Lula, tecnicamente ficha-suja) usando,
primeiro, as redes sociais; depois, palanques improvisados; enfim, o boca a
boca. Alckmin, porém, continua convencido de que “quem ganha eleição é a TV”.
Está até agora esperando o início da propaganda eleitoral para deslanchar nas
pesquisas – para aflição de tucanos e seus aliados.
Agora, quem entra em campo
são as tropas. Bolsonaro tem apoios voluntários e distribuídos pelas regiões.
Alckmin passa a contar com um exército que tem PSDB, DEM, PSD, PP, PR, PRB,
Solidariedade, PPS e PV. Significa, além de 40% de todo o tempo da propaganda
eleitoral na TV, também um batalhão de vereadores, prefeitos, deputados e cabos
eleitorais trabalhando pela candidatura. Sem considerar, claro, as dissidências
nos Estados.
Enquanto Bolsonaro tenta
um vice atrás do outro, Alckmin sonha com Josué Gomes da Silva, um dos maiores
empresários do País, simpático à esquerda e à direita e de um Estado decisivo:
Minas Gerais. Só depende do próprio Josué e das pressões do PT.
Como na física, a uma ação
corresponde uma reação. Se Alckmin conseguiu reunir o Centrão, é natural que as
esquerdas tentem uma aglutinação em torno de um nome. Mas que nome? Além de
Lula, os demais amargam 1% nas pesquisas e Ciro Gomes, do PDT, está tão “biruta
de aeroporto” quanto o PSB. Vai do PT ao DEM, volta do DEM ao PT e não chega a
lugar nenhum, ou a aliança nenhuma. A única certeza é que as esquerdas estão
imobilizadas por Lula e sua candidatura fantasma.
Afora isso, Marina é uma
candidata que, de tão discreta, nem parece candidata. E Henrique Meirelles é um
candidato que, de tão inexpressivo, parece que não vai longe nem mesmo no MDB.
É assim que a eleição vai ganhando forma e rumo. Bolsonaro tem voto, Alckmin
tem partidos, Ciro atira para todo lado, Marina é válvula de escape e todos
esperam – ou temem – o nome do PT.
Portal do Estadão, em
24/07/2018
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