Festa? Que festa?*
Alckmin será a estrela da convenção do PSDB,
mas aliados estão desalinhados
Eliane Cantanhêde
O PSDB faz sua convenção nacional amanhã, em Brasília,
num ambiente de muita insatisfação contra o partido no Planalto, no Congresso,
nos partidos aliados e, pior, numa ala responsável por grande parte da imagem
tucana ao longo dos anos: os economistas. O resultado é que as críticas se
multiplicam na mídia.
Na véspera, o ex-presidente do BC Armínio Fraga foi na
linha da economista Elena Landau e declarou que o PSDB “envelheceu”. Para
piorar, o STF determinou a quebra de sigilo bancário e fiscal de Aécio Neves,
presidente licenciado do partido, ex-governador de Minas e ex-candidato à
Presidência. Festa? Que festa?
É assim que o governador Geraldo Alckmin assume a
presidência do PSDB e tem seu primeiro grande ato de campanha para o Planalto.
Convenhamos, não é uma largada fácil. E, se ele conseguiu um difícil consenso
interno, vai conviver com os aliados potenciais em pé de guerra e ameaçando,
até mesmo, lançar um “tertius” para 2018.
Numa primeira leitura, o “tertius” seria o próprio
Alckmin, que se coloca ao centro, entre Lula, à esquerda, e Jair Bolsonaro, à
direita. Mas os aliados cada vez mais desalinhados dos tucanos explicam que a
terceira via que estão buscando é outra: entre o PSDB de Alckmin e o PT de
Lula.
Estamos falando de oito partidos que formam a base do
governo Michel Temer e teriam tudo para já estar engajados na candidatura
Alckmin, mas, ao contrário, não fazem outra coisa senão criticar duramente o
PSDB e até Alckmin, diretamente. O próprio Temer não perdoa a omissão dele na
votação das duas denúncias da PGR.
Esses partidos são o DEM, velho parceiro tucano, o PMDB,
que oscila desde 1994 entre PSDB e PT, e os integrantes do Centrão – PSD, PP,
PR, PRB, PTB e PSC – cada vez mais dentro do governo e empurrando os tucanos
porta afora. O coordenador político do Planalto, Antonio Imbassahy, por
exemplo, pode sair do governo a qualquer momento, até hoje mesmo.
Esse grupo, porém, continua com o problema de sempre:
quer romper com o PSDB e lançar candidato comum, mas não tem um só nome com
estatura e força suficientes para não dar vexame em outubro do ano que vem.
Eles chegaram a sonhar com João Doria, mas consideram que o prefeito perdeu o
fôlego. Falam de Paulo Skaf, da Fiesp, mas, se tiver algum juízo político, até
o próprio Skaf deve rir dessa história.
Assim, a articulação deles pode ser apenas ameaça, uma
forma de vender dificuldade para colher facilidade. Ainda assim, pode deixar
sequelas. O risco do PSDB – ou seja, de Alckmin – é menos um candidato das
forças aliadas, mas uma adesão fracionada e de má-vontade. Isso significaria
não só perda de preciosos minutos na TV, mas um estouro da boiada nos Estados.
Sem um candidato forte que una todos para a Presidência, cada partido vai desenhando
suas alianças Estado por Estado. Quando olhar em volta, Alckmin poderá
descobrir que o PMDB, por exemplo, lhe escapou pelas mãos, como em Alagoas. E o
que falar do PSD? Do PR? Do PTB?
A bem do PSDB, diga-se que essa sensação de que tudo está
de pernas para o ar não é uma exclusividade do partido. O PT está cheio de
cicatrizes e com um candidato de futuro incerto e não sabido, as alianças nos
Estados são as mais esdrúxulas e mais diversas, Bolsonaro virou um fator
considerável e o governo não tem ideia para onde vai. Logo Alckmin terá pouco a
comemorar na convenção de amanhã, que é apenas um passo numa estrada cheia de
ameaças e armadilhas.
Arroz de festa. Só nesta semana, o diretor da PF,
Fernando Segovia, foi a jantar do DEM, almoço do Itamaraty e show sertanejo em
entrega de prêmio para jornalista. Sem deixar de passar pelo Planalto.
*Publicado no Portal Estadão em 08/12/2017
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