Lula, segundo Palocci*
Ex-ministro corrobora que os escândalos da corrupção
petista não foram eventos isolados
O depoimento do ex-ministro Antonio Palocci ao juiz
Sérgio Moro é mais que um libelo acusatório. É uma peça histórica que corrobora
que os escândalos de corrupção dos governos petistas não foram eventos isolados.
O mensalão e o petrolão foram o resultado de uma operação criminosa instalada
na mais alta cúpula do governo federal a partir do primeiro mandato de Lula da
Silva e que se manteve após a eleição de Dilma Rousseff. Ao evidenciarem uma
vez mais a continuidade no ilícito ao longo dos anos, imune às mais variadas
trocas de cargos, as declarações de Palocci deixam também claro quem era o
chefe desse sistema perverso que tantos males causou e causa ao País. Não era
José Dirceu, nem Antonio Palocci, nem Dilma Rousseff. Quem detinha o comando e
quem batia o martelo nas negociações era o sr. Lula da Silva.
Palocci confirmou ao juiz Sérgio Moro que são verdadeiras
as denúncias de pagamento de vantagens indevidas, em forma de doação de
campanha e benefícios pessoais durante os governos de Lula da Silva e de Dilma
Rousseff. Suas declarações não foram feitas no âmbito de uma delação premiada,
mas ditas ao final do depoimento que o ex-ministro da Fazenda prestou, no dia 6
de setembro, à 13.ª Vara Federal de Curitiba, num processo em que Palocci, Lula
e mais seis pessoas são réus sob a acusação de terem recebido propina da
empreiteira Odebrecht por contratos com a Petrobrás.
Segundo o ex-ministro da Fazenda, Lula fez um “pacto de
sangue” com a Odebrecht no qual a empreiteira se comprometeu a pagar R$ 300
milhões ao PT. Realizado no final do segundo mandato de Lula, o acerto
incluiria um terreno para o Instituto Lula, o sítio de Atibaia e o aluguel de
um apartamento de cobertura em São Bernardo do Campo. “Eu chamei de pacto de
sangue, porque envolvia um presente pessoal que era o sítio (de Atibaia)”,
esclareceu Palocci. Na ocasião, a empreiteira teria ainda se comprometido a
contratar o ex-presidente para palestras com cachê de R$ 200 mil cada. Em
troca, a Odebrecht continuaria recebendo favores ilegais do governo federal sob
a gestão de Dilma Rousseff.
Palocci assegurou que a pupila Dilma Rousseff sabia do
esquema criminoso do chefe Lula e com ele compactuava. “Numa reunião no dia 30
de dezembro de 2010 (...) o presidente Lula leva a presidente Dilma, presidente
eleita, para que ele diga a ela das relações que ele tinha com a Odebrecht e
que ele queria que ela preservasse o conjunto daquelas relações em todos os
seus aspectos, lícitos e ilícitos”, disse Palocci.
O depoimento também desmascara a falsa imagem com que
Lula da Silva gosta de se apresentar, de líder político que enfrenta os
poderosos em nome das causas dos pobres. Ao retratar a relação do líder petista
com o clã Odebrecht, o ex-ministro indicou não haver qualquer tipo de tensão.
“Esse relacionamento (entre Lula e os representantes da empreiteira) sempre foi
fluído e na base de confiança.”
O depoimento de Palocci, que foi por longo tempo homem de
confiança de Lula e o poderoso ministro da Fazenda no primeiro mandato do
petista, complica qualquer tentativa de defesa do ex-líder sindical. Além de
confirmar que Lula sabia das falcatruas envolvendo o governo federal e a
Odebrecht, o depoimento mostra também um traço de comportamento do
ex-presidente que era inaceitável, não faz muito tempo, até pelo laxo PT: a
corrupção para proveito pessoal. O partido fingia não ver os desvios em nome da
causa, mas continuava criticando o enriquecimento ilícito pessoal. Parecia ser
o modo como a legenda tentava enganosamente se diferenciar da imagem típica de
políticos corruptos. Na sua estranha ética, os “bons petistas” infringiam a lei
em prol do partido, mas não punham dinheiro no próprio bolso. Pois bem, até
desse último ponto de honra o PT abriu mão para não ter de abandonar seu líder.
Após o depoimento de Antonio Palocci, o partido emitiu nota se solidarizando
com o ex-presidente, justamente aquele que, antes de deixar o cargo, deu um
jeito de entesourar um sítio, uma cobertura e polpudos cachês.
*Publicado no Portal Estadão em 14/09/2017
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