Lula e Bolsonaro*
Não é para eleger Lula nem Bolsonaro que a
Lava Jato
refunda o Brasil
Eliane Cantanhêde
Enquanto o prefeito João Doria estuda as falas e
trejeitos de Emmanuel Macron e tenta mimetizar a eleição dele no Brasil, o
deputado Jair Bolsonaro vai tentando, devagar e sempre, seguir a trilha de
Donald Trump, que era tão absurdo, ninguém acreditava e chegou lá. Uma surpresa
mundial. Ou melhor, um susto.
A imprensa americana – e, por conseguinte, a brasileira –
não viu Trump, não acreditou em Trump, ridicularizou Trump e, no final, foi
obrigada a engolir a vitória dele para a presidência da maior potência mundial.
Agora, a opinião pública nacional não acredita, não vê e não leva Bolsonaro a
sério. O risco é ser novamente surpreendida.
Homem de comunicação, Doria é um craque midiático e está
todos os dias nas capas de sites e de jornais, nos programas mais populares de
TV e em rádios de diferentes regiões. Bolsonaro é quase ausente da mídia
nacional, mas faz sua divulgação no corpo a corpo em aeroportos, nas chegadas a
cidades de todo o País e em reuniões fechadas.
“Anfíbio” que passou parte da vida na caserna e está no
seu sétimo mandato na Câmara, viaja muito, abre filas de curiosos ávidos por
selfies com ele, agita voos de lá para cá e é recebido como candidatíssimo, não
raro com a improvisação de palanques e megafones. As pessoas começam a se
perguntar: “E o Bolsonaro, hein?”
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As respostas oscilam em três categorias: há os que o
apoiam porque sentem ojeriza pela política e uma vaga nostalgia da ditadura
militar; os que têm verdadeira ojeriza ao próprio Bolsonaro e ao que ele
representa; e um grupo crescente que nem é tão a favor nem tão contra, mas
manifesta curiosidade diante dele.
A eleição de Bolsonaro para a Presidência é altamente
improvável, porque ele representa um nicho, não a maioria, e porque ele é pouco
conhecido e campanhas são cruéis e reveladoras. São o momento de mostrar as
fragilidades e até “os podres” dos candidatos. No mínimo, o que ele entende de
economia, negociação política e administração pública?
Mas Bolsonaro está crescendo. Segundo o DataPoder360, que
entrou no complexo mundo das pesquisas neste ano, ele já tem 21% e está em
empate técnico com o líder Lula (23%), num cenário em que Doria e Marina Silva
estão com 13% e 12%. Num outro cenário, com Geraldo Alckmin no lugar de Doria,
Lula tem 26% e Bolsonaro, novamente, ostenta 21%. Alckmin fica em terceiro, com
10%, e Marina em quarto, com 6%.
A esta altura, as pesquisas não projetam resultados,
apenas apontam tendências, e uma tendência clara é que Bolsonaro está no jogo,
um jogo perigoso não só por causa dele. Há um consenso de que a eleição de 2018
será entre candidatos não enrolados na Lava Jato, caso do próprio Bolsonaro,
Marina, Doria e Ciro Gomes, o lanterna, por enquanto, mas o líder das pesquisas
é considerado também o líder da Lava Jato: o ex-presidente Lula.
Condenado pelo juiz Sérgio Moro, ele poderá se candidatar
se o TRF-4 absolvê-lo ou simplesmente não julgá-lo antes do registro da chapa no
TSE. Também poderá se o tribunal confirmar a sentença de Moro, mas a defesa
entrar com recurso e um tribunal superior der liminar favorável. Os petistas se
mobilizam para mudar as regras do jogo com a chamada “Emenda Lula”, que altera
o prazo para a prisão de candidatos, de 15 dias para oito meses. Um escândalo.
São dois riscos: a vitória de Lula seria o fim e a
desmoralização da Lava Jato, mas, sem ele na eleição, o primeiro nas pesquisas
pode passar a ser Bolsonaro. Não é para eleger Lula nem os Bolsonaros da vida
que o Brasil faz a faxina que faz. Quem será em 2018, ninguém sabe. Mas quem
não deve ser, todos precisamos saber. É melhor prevenir do que remediar.
*Publicado no Portal Estadão em 18/07/2017
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