Na antessala de Temer e Lula*
Janot contra Temer e Loures; Moro mira em Lula e Palocci
Eliane Cantanhêde
Foram dois recados prévios. O procurador Rodrigo Janot
pediu a manutenção da prisão do ex-deputado Rocha Loures para deixar clara a
linha da primeira denúncia contra o presidente Michel Temer, horas depois. E o
juiz Sérgio Moro condenou Antonio Palocci a mais de 12 anos, aparentemente,
como preparativo para sua sentença contra o ex-presidente Lula.
Rocha Loures está na antessala de Temer, assim como
Palocci está na de Lula. Loures foi filmado carregando uma mala de R$ 500 mil
que a PGR diz que, na verdade, seria de Temer e parte de uma mesada da JBS. E
Palocci era o gerente real das contas de Lula na Odebrecht, conforme delatou o
próprio Marcelo Odebrecht.
Loures entrou mudo e saiu calado do seu depoimento às
autoridades e o Planalto nem sequer conseguiu disfarçar o alívio. E Palocci
está sendo duro na queda, mas a condenação de ontem, que inclui a devolução de
US$ 10 milhões (!) reforça informações de bastidores de que ele está caminhando
para fazer delação premiada.
O que significa delação premiada nesses dois casos? Na
expectativa dos investigadores e no temor dos envolvidos, significa “entregar
os chefes”. Loures era, literalmente, o carregador de pasta de Temer, aquele
que sabe tudo. E Palocci é mais ainda, porque tem mais status.
Parte inferior do formulário
Em depoimento a Moro, Palocci foi premeditadamente
confuso e contraditório, acenando com informações que pudessem dar um ano de
trabalho à força-tarefa da Lava Jato. Para o juiz, foi “uma ameaça”. Pode ter
sido para empresas, bancos, o PT. Mas, mais do que conhecer os esquemas, ele
conhece o papel de Lula.
Líder nas pesquisas presidenciais, Lula luta nas bases,
via militância e movimentos alinhados com o PT. Já Temer, três vezes presidente
da Câmara e com aprovação abaixo do mínimo, guerreia nas cúpulas, com o
Congresso e os partidos aliados.
Na avaliação do Planalto, a gravação de Joesley Batista
com Temer é insuficiente para derrubar um presidente da República. “É o diálogo
de um homem educado (Temer) tentando se livrar logo de um chato (Joesley)”,
define um ministro. Mas a denúncia de Janot tem mais e é bem adjetivada, pode
aumentar a perda de confiança e de apoio, principalmente no PSDB.
Há risco real de Temer ser afastado do cargo e de o País
conviver com a situação inédita de um presidente processado pelo Supremo.
Apesar disso, ontem a Bolsa subia, o dólar caía e a sociedade seguia
normalmente. A crise política atinge seu pico, mas o País não está
convulsionado, parece anestesiado. Mais uma jabuticaba, que só existe no
Brasil.
Há protestos em Curitiba, por exemplo, mas eles não têm a
ver diretamente com a denúncia contra Temer, mas sim contra o ajuste fiscal
para corrigir a calamidade econômica deixada por Dilma Rousseff. Os Estados vão
adotando ajustes e quem paga o pato são especialmente os funcionários públicos,
que se revoltam. Ou seja: as manifestações são locais, pontuais, movidas por
interesses diretos.
Temer é o presidente mais impopular desde a
redemocratização, mas a crise não está nas ruas e as atenções estão nos poucos
metros quadrados da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Intensa movimentação
no Planalto, a PGR fatiando a denúncia contra Temer, a Câmara se preparando
para autorizá-la ou não. Se autorizar, o Supremo vai julgar já com Temer
afastado.
Tudo isso acontece ao mesmo tempo, sem que a sociedade e
seus representantes se ocupem de traçar o “day after”. Hipoteticamente: se
Temer cai hoje, como o Brasil acorda amanhã? De pernas para o ar, com Rodrigo
Maia no centro da história. E se Temer tiver 172, 180 ou 200 votos na Câmara
para barrar o processo? Ele fica, mas isso lhe garante governabilidade até
2018? Há controvérsias.
*Publicado no Portal Estadão em 27/06/2017
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