Velloso na Justiça*
Eliane Cantanhêde
Ao convidar o ex-ministro do STF Carlos Velloso para o
Ministério da Justiça, na terça-feira, 14/02, o presidente Michel Temer matou
não dois, mas três coelhos com uma só cajadada. Velloso é um jurista respeitado
nacionalmente na esquerda, no centro e na direita, é amigo pessoal e da confiança do constitucionalista
Temer e corrige uma distorção do governo ao dar um cargo de primeiro escalão
para Minas Gerais.
É a primeira vez, em décadas, que Minas fica sem
ministério, apesar de ser um dos três principais estados brasileiros na
economia, na política e na população. Como comparação, Pernambuco tem cinco
ministros. Cinco a zero?!
Ao mesmo tempo, Temer resistia à pressão do PMDB mineiro
para nomear o deputado Rodrigo Pacheco para a Justiça, por duas conclusões óbvias:
o PMDB é um dos partidos mais visados na Lava Jato e Pacheco é um ilustre
desconhecido no meio jurídico e na opinião pública. Digamos que não chega a ser
um “notável” e, portanto, seria como Ricardo Barros (PP-PR) na Saúde. A
gritaria seria estridente.
Não por acaso, Temer recorreu ao senador Aécio Neves para
sair dessa enrascada. Presidente nacional do PSDB, Aécio é também ex-governador
de Minas. Cada vez mais próximos, Temer e Aécio tiraram o deputado peemedebista
da jogada e puseram o nome do também mineiro Carlos Velloso. Mesmo que não seja
ele, conseguem aliviar a pressão.
Há dois grandes “senões” à indicação de Velloso, e eles
se potencializam: ele tem mais de 80 anos e não entende nada de segurança
pública, mas a pasta passou a ser Ministério da Justiça e da Segurança Pública
justamente num momento de grande tensão no Rio, no Espírito Santo, no Norte, no
Nordeste…
Para compensar essa desvantagem de Velloso, o presidente
já mandou sondar José Mariano Beltrame, ex-secretário de Segurança Pública do
Rio, para ocupar a Secretaria Nacional de Segurança e tourear essa área explosiva que
ajuda a piorar o humor da sociedade e a tirar o sono de Temer.
No Planalto, há dúvidas quanto ao timing para anunciar o
novo ministro da Justiça e Temer tende a esperar a sabatina de Alexandre de
Moraes no Senado, prevista para a próxima semana. Acha que poderia parecer
“soberba” anunciar agora o sucessor de Moraes, como se já desse como favas
contadas sua aprovação pelos senadores. Que ele dá, é verdade, mas está preferindo
seguir o ritual e o script, para escapulir de nova onda de críticas.
*Publicado no Portal Estadão em 15/02/2017
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