sexta-feira, 12 de agosto de 2016

OPINIÃO

Raul Pont e Sofia Cavedon acendem as
fogueiras e soltam o diabo nas eleições

Por Plinio Zalewski Vargas

Foto: Correio do Povo/Reprodução
























A galera do #‎naovaitergolpe fez uma caminhada ontem à noite. Democracia é isso mesmo, gente na rua, palavras de ordem, cantorias, protestos, celebrações. Na marcha, Raul Pont e a vereadora Sofia Cavedon, bandeiras da UNE, do PT, do Pc do B.

Na página do candidato do PT a prefeito de Porto Alegre, no Face, um vídeo com Raul Pont em seu recorrente esforço para legar à história que o afastamento da presidente Dilma é fruto do tal de golpe. Tudo bem, a verdade na política não resiste à fragilidade dos assuntos humanos, sempre passíveis de interpretações, manipulação e do famoso "dizque", do qual as pessoas precisam para tocar suas vidas.

Querem uma prova? No vídeo, Raul Pont não diz uma palavra sobre o fato de que a chapa que elegeu Dilma em 2014 contava com Michel Temer. Ou seja, o PT, para garantir uma reeleição difícil, precisou dos votos do PMDB, como de resto precisou do partido tempos atrás para salvar Lula do impeachment, no episódio do mensalão. Sim, Sarney, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, também são do PMDB.

E vejam só que loucura: no RS, o PMDB gaúcho apoiou primeiro Eduardo Campos, depois Marina Silva nas eleições à presidência. Trocando em miúdos, na terra da degola Raul Pont discursava no palanque de Michel Temer, enquanto Sebastião Melo caminhava na Rua da Praia com Marina Silva, aquela que Dilma chamou de chorona, porque não suportou o jeito petista de "fazer o diabo numa eleição". Sacaram?

Pois ontem, Raul e Sofia voltaram a fazer o diabo. Numa democracia, abrir as portas do inferno significa violar as normas, os costumes e as leis que regulam a disputa e as relações entre os partidos, seus candidatos e militantes. Agredir adversários, por exemplo. Vandalizar a sede de um partido, outro exemplo. Caluniar, mais um. Mentir aos eleitores, outro mais.
E se chamamos o diabo para a política, ele acende fogueiras. E se há alguma coisa que me dá arrepios na política é uma fogueira.

Porque não faltam exemplos dessa mistura trágica em nossa história. Lembram das bruxas ardendo por heresia? Dos judeus nas fogueiras do nazismo? Das festas de queimas de livros de Goebbels?

A propósito, Himmler, o chefe da SS, sonhava com o retorno da germânia medieval, lugar das celebrações entre os arianos: "fechando o ano no esquema de Himmler estava o Solstício de Inverno ou Yuletide, um evento que reunia o povo SS em mesas de banquete à luz de velas com fogueiras em fúria ao redor que remontava aos ritos tribais Alemães.”

Claro, nem Raul, nem Sofia, se parecem com Himmler, Goebbels, sequer Stálin. Mas a imagem do candidato a prefeito do PT fazendo parte de uma caminhada que resultaria em chamas no meio da Avenida João Pessoa e vandalismo na sede do PMDB de Porto Alegre, nos dá uma pista do quanto a impotência é uma ameaça à democracia e aliada da violência.

Raul Pont não precisa de fogueiras, nem do diabo para sair respeitado desta eleição. E a vereadora do PT, me desculpem, não merecia a escolha que Sofia fez: sorrir em torno da fogueira e aplaudir um ritual que, sabemos, liberta o nosso avesso, viola nossas regras e consome bruxas.

Quanto ao #‎foratemer e ao #naovaitergolpe, prossigam na narrativa. Faz parte do jogo. Mas ela não resiste ao debate público, no qual a única arma deve ser a palavra.

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