Travados pela
ineficiência*
O Brasil poderá sair do buraco depois de dois anos de
recessão, de muitas quebras e muito desemprego, mas precisará de muito mais que
uma fase de recuperação para crescer como outros países emergentes. É a
diferença entre deixar a UTI – ou mesmo sair do hospital – e ganhar vigor e
agilidade para entrar numa corrida. São necessários quatro brasileiros para
produzir tanto quanto um americano. O País fica em desvantagem, no quesito
produtividade, também quando comparado com muitas outras economias. Com baixa
capacidade produtiva, a economia brasileira compete com muita dificuldade no
mercado internacional e tem baixo potencial de crescimento. Pelos padrões
internacionais, a produtividade do Brasil é a pior desde os anos 50, como
informou reportagem do Estado publicada no domingo, e mudar esse
quadro é o maior desafio para a administração federal nos próximos anos.
A eficiência produtiva do País cresceu de 1950 a 1980,
numa fase de intensa industrialização e modernização tecnológica. Declinou nos
10 anos seguintes, marcados por uma sequência de crises. Voltou a avançar nos
anos 90 e continuou em alta nos primeiros anos do novo século, até começar uma
nova etapa de estagnação. A indústria foi o setor mais afetado pela perda de
dinamismo. Entre 2004 e 2012, a produtividade industrial dos 15 principais
parceiros comerciais do País cresceu em média 2,6% ao ano. No Brasil, o avanço
anual ficou em 0,1%, segundo números compilados pelo departamento econômico da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
As causas principais da baixa eficiência brasileira são
conhecidas há muito tempo e pouco se tem feito para eliminá-las. Pior: alguns
desses problemas se têm agravado, tanto por omissão quanto por ação do governo.
O baixo nível de investimento é uma das explicações. A parcela de recursos
destinada à formação bruta de capital fixo – máquinas, equipamentos – tem
oscilado entre cerca de 17% e cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Em
muitos outros países emergentes a taxa supera 25% e, no caso dos asiáticos, até
30%.
Investe-se pouco tanto no setor empresarial quanto na
infraestrutura. As consequências são facilmente visíveis, por exemplo, nas
deficiências do setor de transportes e no alto custo da logística. O agronegócio,
eficiente no interior das unidades produtivas, perde parte de seu poder de
competição quando tem de levar seus produtos aos portos. No caso da indústria,
geralmente menos competitiva, os efeitos são especialmente desastrosos. Mas a
competitividade é prejudicada por outros fatores.
A tributação irracional encarece o investimento, a
produção e a comercialização de todos os tipos de bens, especialmente dos
industriais. A complexidade dos impostos impõe custos enormes para o
cumprimento das obrigações fiscais. Procedimentos para exportar e para importar
são mais complicados que em muitos outros países. A insegurança jurídica trava
negócios.
Além disso, a baixa qualidade da educação limita a oferta
de mão de obra qualificada ou em condições de ser treinada nas empresas. Pelos
dados oficiais, há cerca de 18% de analfabetos funcionais – pessoas com idade a
partir de 15 anos capazes ler, mas não de entender um texto de instruções
simples.
Empresários queixam-se muito dos juros elevados, um
obstáculo ao investimento. Mas os juros são altos porque o buraco das contas
públicas é grande e o governo tem de pagar caro para rolar sua dívida. Além
disso, o desajuste fiscal mantém elevada a inflação e isso limita a capacidade
do Banco Central de cortar os juros.
A tudo isso é preciso somar um componente nem sempre
mencionado: boa parte do dinheiro investido é simplesmente perdida, porque
obras são superfaturadas (veja-se, por exemplo, a Operação Lava Jato), prazos
se alongam e a qualidade do investimento é baixa, como comprova, por exemplo, o
despreparo de quem sai das escolas. Cada dólar de investimento no Brasil nem
sempre rende tanto quanto o dólar investido em outro país.
*Publicado
no Estadao.com em 20/07/2016
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