terça-feira, 14 de junho de 2016

OPINIÃO

A democracia das minorias

Foto: Correio do Povo (Reprodução)
Desde ontem, professores em greve ocupam as entradas do Centro Administrativo Fernando Ferrai, em Porto Alegre. São, segundo informações da imprensa, cerca de 60 representantes da categoria, que fecham entradas do CAFF, impedindo que milhares de pessoas entrem no prédio para trabalhar.

Pode ser que alguns até apoiem a greve, outros não. Fico entre os que defendem o direto dos professores de reivindicarem melhores salários, mas sou frontalmente contra o fato de impedirem que alguém tenha os mesmos direitos que eles.

No momento em que os professores se utilizam do instrumento da greve, e já estão parados faz muito tempo, não podem esquecer que os demais trabalhadores exigem direitos iguais, ou seja, transitarem livremente por ruas e avenidas e livre acesso aos seus locais de trabalho.

Num momento em que o Brasil atravessa, quem sabe, sua maior crise econômica, provavelmente provocada pela má gestão imposta pelo partido de muitos dos grevistas, não me parece justo que professores tornem político um movimento que deveria ser apenas reivindicatório. Perdem a razão quando, por exemplo, interferem na atividade normal do cidadão que quer exercer seu direito de ir e vir. Querem, e acho que merecem, melhores salários, mas não admitem que o governo estadual tenha chegado ao limite possível. Esquecem que dinheiro não cai do céu. Reclamam de tudo, mas não colaboram com nada. Muito pelo contrário.

Fico imaginando se o governador mandasse a Brigada Militar retirar os manifestantes das portas do Centro Administrativo, permitindo a passagem de quem quer trabalhar. Imediatamente vários políticos, deputados e vereadores, se posicionariam ao lado dos grevistas gritando que eles tem o direito de fazer greve.

Claro que tem, mas quem quer trabalhar tem exatamente o mesmo direito que estão sendo impedidos de exercer. Façam greve, professores, mas deixem que os que querem trabalhar, trabalhem. O feitiço pode virar contra o feiticeiro, já se dizia lá em Saõ Gabriel.

Estudantes
Estudantes no saguão da AL (Foto:Reprodução)
Inspirados em movimentos que começaram no centro do país, estudantes secundaristas, não satisfeitos em ocupar colégios públicos, decidiram tomar o saguão de entrada da Assembleia Legislativa. Estão lá desde a tarde de ontem (13) reivindicando melhorias nas condições físicas das escolas e solidários com os professores.

Exatamente como seus mestres, politizam um movimento que, mesmo que seja considerado justo, o que é discutível, transformando um prédio público, espaço livre e democrático, em trincheira para tentar impedir que ali funcione normalmente um poder que deveria servir para defendê-los.

Faço qualquer tipo de aposta com quem quiser, que os mesmos alunos, os mesmos professores que hoje impedem o cidadão comum de trabalhar, jamais admitirão que as aulas que precisam ser recuperadas, invadam o período de final de ano, quando todos entram em férias. Parados há quase um mês, sem aulas e sem permitir que outros tenham acesso aos colégios públicos, jamais recuperarão o tempo perdido. As aulas de recuperação, no máximo, serão ministradas (?) num ou em dois finais de semana, no máximo. Daí, mais tarde, os mesmos grevistas de hoje reclamarão da qualidade do ensino público.

Enquanto a maioria está impedida de exercer o que é permitido pela democracia, ficamos parados assistindo alguns impondo a democracia das minorias. Não sei, mas acho que isto só acontece no Brasil.

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