O Paulo Motta é um escritor gênial, quando quer ser.
Normalmente quer, mas as vezes tem preguiça. Não pedi licença, mas sou obrigado
a compartilhar o texto que ele escreveu sobre a Dona Norma, que deve ter
sofrido, mas certamente não se arrepende de ter um filho como o nosso “presidento” de Bulhufas.
MÃES
Minha
santa mãezinha, Dona Norma Motta, professora aposentada, sempre tem uma palavra de
carinho pro seu único filhinho.
Ontem me ligou e relembramos coisas de antanho. O início da conversa foi mais ou menos assim:
- Porquê tu não me liga, cu de lagarto? Eu aqui, ansiosa por notícias tuas e tu não me dá a mínima, seu bosta!
- Mas mãe, é que...
- Não tem 'mas mãe é que', não te borboleteia, seu fresco!
Mas lembramos de quando ela voltava do Grupo Escolar Getúlio Vargas, São Borja, onde lecionava, e passava na Livraria A Preferida - do Seu Luiz Carlos Lopes - e trazia gibis do Pato Donald e Tio Patinhas.
Fui criado abaixo de gibis, acreditem.
Em tardes frias, meu entretenimento eram os gibis e meu Forte Apache Casablanca.
Minha avó, a Cantídia, volta e meia aparecia com uma terrina cheia de caldo de feijão com ovo desmanchado e era tudo de bom.
Lembro do cheiro do café coado embaçando as vidraças da cozinha e meu pai, o Beltrão, chegando do quartel e limpando as botas na soleira da porta, no final da tarde. A chuva fina de junho embalava meus seis anos de vida.
Minha mãe colocava, nas minhas costas, um
tapa-mugre pra eu não pegar aragem e me resfriar.
Mugre, lá em São Borja, é sujeira.
Às vezes ela me dizia:
- Credo, guri, estás mugrento, vais tomar um banho, seu relaxado!
E ela fala assim até hoje, com ésses e érres conforme se escreve, verdade.
Mas fico feliz em poder lembrar, com a Dona Norma, coisas de cinquenta e poucos anos atrás.
Boa tarde pra vocês, um carinhoso beijo no fígado de todos e todas.
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