quinta-feira, 5 de maio de 2016

Bulhufas


O Paulo Motta é um escritor gênial, quando quer ser. Normalmente quer, mas as vezes tem preguiça. Não pedi licença, mas sou obrigado a compartilhar o texto que ele escreveu sobre a Dona Norma, que deve ter sofrido, mas certamente não se arrepende de ter um filho como o nosso “presidento” de Bulhufas.




MÃES

Minha santa mãezinha, Dona Norma Motta, professora aposentada, sempre tem uma palavra de carinho pro seu único filhinho.

Ontem me ligou e relembramos coisas de antanho. O início da conversa foi mais ou menos assim: 

- Porquê tu não me liga, cu de lagarto? Eu aqui, ansiosa por notícias tuas e tu não me dá a mínima, seu bosta! 

- Mas mãe, é que...

- Não tem 'mas mãe é que', não te borboleteia, seu fresco! 

Mas lembramos de quando ela voltava do Grupo Escolar Getúlio Vargas, São Borja, onde lecionava, e passava na Livraria A Preferida - do Seu Luiz Carlos Lopes - e trazia gibis do Pato Donald e Tio Patinhas.

Fui criado abaixo de gibis, acreditem. 

Em tardes frias, meu entretenimento eram os gibis e meu Forte Apache Casablanca.

Minha avó, a Cantídia, volta e meia aparecia com uma terrina cheia de caldo de feijão com ovo desmanchado e era tudo de bom.
 
Lembro do cheiro do café coado embaçando as vidraças da cozinha e meu pai, o Beltrão, chegando do quartel e limpando as botas na soleira da porta, no final da tarde. A chuva fina de junho embalava meus seis anos de vida. 
Minha mãe colocava, nas minhas costas, um tapa-mugre pra eu não pegar aragem e me resfriar. 

Mugre, lá em São Borja, é sujeira.

Às vezes ela me dizia:

- Credo, guri, estás mugrento, vais tomar um banho, seu relaxado!
E ela fala assim até hoje, com ésses e érres conforme se escreve, verdade. 

Mas fico feliz em poder lembrar, com a Dona Norma, coisas de cinquenta e poucos anos atrás. 

Boa tarde pra vocês, um carinhoso beijo no fígado de todos e todas.

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