Aproveitando para agradecer o grande número de mensagens que recebi depois que informei, no Facebook, que estou passando por um pequeno problema de Labirintite, gostaria de dizer a todos que, cumprindo um absoluto repouso e com a medicação indicada, estou realmente em franca recuperação. Já passaram os momentos ruins e, aos poucos, estou voltando ao normal.
Como fui recomendado a não permanecer muito tempo na frente do computador, vou trocar, com vantagens para os leitores, meu comentário de todos os dias por um editorial do jornal Gazeta do Povo, do Paraná. Ele coloca muito bem o que está absolutamente claro quando se fala em buscar o enfrentamento entre os que querem e os que são contra o impeachment da presidente Dilma. Leiam e aproveitem.
Tenham todos um Bom Dia!
Conivência com
os incendiários*
“A forma de enfrentar a bancada da bala contra
o golpe é ocupar as propriedades deles ainda lá nas bases, lá no campo. E é a
Contag, são os movimentos sociais do campo que vão fazer isso. Ontem dizíamos
na passeata: vamos ocupar os gabinetes, mas também as fazendas deles. Porque se
eles são capazes de incomodar um ministro do Supremo Tribunal Federal, nós
vamos incomodar também as casas, as fazendas e as propriedades deles.” Foi com
essas palavras nada ambíguas que Aristides Santos, secretário da Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), anunciou seu modo de
resistir ao impeachment da presidente Dilma Rousseff no dia 1.º. E pregou esse
recurso à violência diante da própria Dilma.
Nada diferente daquilo que o
presidente da CUT, Vágner Freitas, afirmou, também em evento no Planalto, com a
presença de Dilma, em agosto de 2015: “Somos defensores da unidade nacional, da
construção de um projeto de desenvolvimento para todos e para todas. E isso
implica, neste momento, ir para as ruas entrincheirados, com armas nas mãos, se
tentarem derrubar a presidenta”. Disse ainda que “nós seremos um exército” se
houver “qualquer tentativa de atentado à democracia, à senhora ou ao presidente
Lula”.
O que isso quer dizer? Que Dilma
Rousseff não se contenta com promover a negociação do desespero no Congresso
Nacional, entregando ministérios importantes para pessoas desqualificadas em
troca dos votos para se livrar do impeachment. A conivência da presidente
diante de promessas inequívocas de recurso à violência significa que Dilma
também quer poder contar com as ameaças dos “movimentos sociais” contra a
população que deseja apenas ver a lei ser cumprida. É por essas e outras que
não se viu reprimenda quando Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto, afirmou, no fim de março, que “não haverá um dia de paz
do Brasil. Podem querer derrubar o governo, podem prender arbitrariamente o
Lula ou quem quer que seja, podem querer criminalizar os movimentos populares,
mas achar que vão fazer isso e depois vai reinar o silêncio e a paz de
cemitério é uma ilusão de quem não conhece a história de movimento popular
neste país (...) Este país vai ser incendiado por greves, por ocupações,
mobilizações, travamentos. Se forem até as últimas consequências nisso não vai
haver um dia de paz no Brasil”.
O que está em jogo aqui não é a
capacidade real destes movimentos de cumprir as promessas que fazem – ainda que
se trate de bravata, as meras ameaças já são graves o suficiente e merecem a
devida contestação legal. Mas o maior escândalo nisso tudo é ver que Dilma e o
petismo não mexem um dedo para conter os ânimos paramilitares dos tais
“movimentos sociais”. Manter esse tipo de dúvida sobre a população e os
parlamentares – “Haverá conflitos nas ruas?” “Minha propriedade corre risco?” –
é apenas uma estratégia a mais para Dilma se manter agarrada à cadeira
presidencial, assim como comprar votos entregando cargos, assim como repetir
infinitamente que há um “golpe” em curso no país. O recurso à violência foi
trivializado pelo petismo.
O discurso de Dilma logo após a fala
incendiária de Aristides Santos parece uma tentativa de esfriar os ânimos. Mas
só parece. “Nós não defendemos qualquer processo de perseguição de qualquer
autoridade porque pensa assim ou assado. Não defendemos a violência, eles
exercem a violência, nós não.” “Eles”, no caso, são a oposição, apesar de ainda
estar para aparecer um equivalente
oposicionista de Boulos, Santos ou Freitas,
alguém prometendo colocar fogo no país como fazem os três líderes defensores de
Dilma. E anos e anos de petismo no poder já deixaram claro que, para o petismo,
invasões de terra ou de prédios não são mesmo violência, não são atentado à
lei: são apenas “justiça social”.
* Publicado na Gazeta do Povo em 08/04/2016
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