Hoje é um dia assim. Fiquei até a madrugada assistindo ao julgamento do pedido, quase que de socorro, da AGU ao STF, numa tentativa de barrar a derrota que o governo sofrerá na Câmara no próximo domingo. Então estou com aquela ressaca de sono, já que tive que acordar cedo para levar a Gabriela para a escola e para resolver problemas do meu dia a dia.
A explicação acima é para dizer que vu deixá-los livres de meu comentário de todas as manhãs. Mas a troca é vantajosa para os leitores.
Estou me preparando para escrever muito durante o final de semana, principalmente para depois da sessão de votação na Câmara, ou seja, "estou me guardando para quando o carnaval chegar"
Tenham, todos, um Bom Dia!
Agora a presidente quer ‘diálogo’*
A presidente Dilma Rousseff garante que dorme tranquila.
E deve ser verdade, a julgar pela amalucada entrevista que concedeu na
quarta-feira passada. Totalmente alheia à realidade, Dilma parece habitar um
universo paralelo, no qual ela tem amplo poder para influenciar os destinos do
País. Hoje está claro para todos com um mínimo de juízo que a petista – que
nunca esteve à altura do desafio de presidir o Brasil – não tem condições de
propor o que quer que seja, mesmo na tenebrosa hipótese de que ela venha a
vencer a batalha do impeachment. No entanto, Dilma achou por bem dizer-se
pronta para “tecer um pacto” e deflagrar um “processo de diálogo, sem vencidos
nem vencedores”, como se fosse realmente capaz de unir o que ela mesma dividiu,
sob inspiração do autoritarismo lulopetista.
Não foi a primeira vez que Dilma ofereceu “pacto” e
“diálogo” aos incautos. Logo que se reelegeu, em 2014, fez um discurso em que
garantiu: “Esta presidente está disposta ao diálogo, e este é meu primeiro
compromisso no segundo mandato: o diálogo”. Nem é preciso mencionar a
deselegância de Dilma ao ignorar o candidato derrotado Aécio Neves, que teve 50
milhões de votos e, minutos antes, havia lhe telefonado para cumprimentá-la
pela vitória. Estava claro que seu discurso em favor de união e paz – que não continha
uma única vez a palavra “oposição” – não valia o papel em que estava escrito.
Foi essa soberba de Dilma e do PT, especialmente de seu
chefão, Luiz Inácio Lula da Silva, que conduziu o País à profunda crise
política em que hoje se encontra. A tigrada nunca esteve aberta a nenhum tipo
de conversa, pois não é da sua índole. É ocioso lembrar, a esta altura, o
histórico empenho do lulopetismo em sabotar os governos aos quais fez oposição.
Não se tratava simplesmente de recusar-se ao diálogo; tratava-se de deliberada
intenção de arruinar completamente o adversário, mesmo que o resultado disso
fosse a ruína do próprio País.
Uma vez no poder, o PT de Lula e Dilma tratou de fechar
de vez as portas a qualquer entendimento, impondo sua agenda econômica
populista e qualificando todos os críticos de “inimigos do povo” e “golpistas”.
Para arregimentar apoio, dispensou a negociação parlamentar, própria das
democracias, preferindo assaltar os cofres públicos para pagar à vista pelo
voto de deputados e partidos corruptos.
Agora que está prestes a responder pelos delitos
cometidos durante uma administração temerária, que afundou o País em corrupção
e enganou os brasileiros por meio de malandragens contábeis com o único
objetivo de conservar o poder, Dilma recorre novamente ao surrado estratagema
de propor um “pacto”. Na entrevista, a presidente declarou: “A oposição
existe”. Imagine o leitor o esforço sobre-humano que a petista teve de fazer
para pronunciar essa frase.
Outras penitências ela não se dispõe a pagar. Por exemplo,
no mesmo contexto em que reconheceu a existência de algo chamado “oposição”,
Dilma não conseguiu admitir nenhum de seus erros. Negou que a crise econômica
tenha sido causada por suas barbeiragens e por sua incapacidade de negociar com
o Congresso, preferindo atribuí-la ao cenário internacional e à
irresponsabilidade da Câmara, liderada pelo deputado Eduardo Cunha: “Esse
presidente da Câmara é um dos grandes responsáveis pelas pautas-bomba. É um grande
responsável pela não votação de reformas”.
Eis aí o resumo da incapacidade essencial do lulopetismo
para estabelecer qualquer forma de entendimento e de fazer concessões. Para
essa turma, os acertos são uma exclusividade do natural talento petista para
governar; já os erros são sempre cometidos pelos outros, em geral pertencentes
às “elites”. E apenas os ungidos pelo demiurgo Lula têm legitimidade para
interpretar os anseios populares, razão pela qual nenhum outro projeto de País
lhe é aceitável.
Por esse motivo, Lula já mandou avisar que não vai
reconhecer um eventual governo de Michel Temer e que não está disposto a
colaborar em qualquer esforço de união nacional. Seria surpreendente se o líder
petista, que nunca aceitou a democracia, agisse de outra forma.
*Publicado no Estadão.com em 15/04/2016
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