Dilma quer que novo ministro da Justiça enquadre PF
Prisão de marqueteiro levou presidente a tirar Cardozo da
Justiça
Kennedy Alencar*
Apesar das negativas iniciais do governo, a presidente Dilma Rousseff quer que
o novo ministro da Justiça, Wellington César Lima e Silva, enquadre a Polícia
Federal e troque, no médio prazo, o diretor-geral, Leandro Daiello.
As pressões do PT e do ex-presidente Lula pesaram a favor
da queda de José Eduardo Cardozo. Contribuíram para a presidente admitir a
troca, a que resistia havia tempo. Mas houve um fator adicional: a prisão
do marqueteiro João Santana gerou na presidente a percepção de que o mandato
dela está em risco. Em resumo, a prisão de Santana minou Cardozo.
Dilma vem alterando o discurso em relação à Lava Jato.
Primeiro, disse que Lula estaria sendo vítima de injustiça. Na mensagem ao
encontro do PT ao qual faltou, ela afirmou que haveria uma tentativa de
criminalizar o partido.
É uma mudança clara em relação ao bordão de que o PT
aperfeiçoou as condições do país para investigar corrupção.
Dilma aceitou trocar Cardozo de função porque está
preocupada em perder o mandato. E ela passou a compartilhar da tese petista de
que faltaria mais pulso no comando da Polícia Federal.
Nesse contexto, a troca do diretor-geral da Polícia
Federal é, sim, uma das tarefas do ministro. No entanto, não dá para trocar
Leandro Daiello na largada, porque houve uma reação negativa dos delegados
federais à queda de Cardozo.
Mas é uma orientação que foi dada ao novo ministro e que
seria implementada no médio prazo. No curto prazo, haverá cobranças sobre
eventuais abusos da Polícia Federal em investigações.
Integrantes do Ministério Público elogiaram a escolha de
Wellington César, tido como preparado tecnicamente e hábil politicamente. No
entanto, ele não tem peso político. Atuará à sombra do ministro da Casa Civil,
Jaques Wagner, de quem foi auxiliar no governo da Bahia. A troca é um
fortalecimento de Wagner, mas há limites para atuação eficiente de um ministro
da Justiça que seja visto como teleguiado.
*Publicado no Portal IG em 1º/03/2016
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