Mentira ou incompetência
Será possível que uma economista de profissão, com fama de gestora
eficiente, foi surpreendida pela crise mesmo com todos os indícios de que ela
viria com força?
27/08/2015)
Antes tivesse sido mais uma daquelas declarações folclóricas sobre
a mandioca, a mulher sapiens, as metas ou o cachorro oculto atrás de cada
criança. Mas não, Dilma Rousseff foi bem clara na entrevista que deu a três
jornais brasileiros: ela não imaginava que a situação da economia brasileira
estava tão complicada.
“Vocês sempre me
perguntam: no que você errou? (...) Em ter demorado tanto para perceber que a
situação poderia ser mais grave do que imaginávamos. E, portanto, tivéssemos de
ter começado a fazer uma inflexão antes. Não dava para saber ainda em agosto [de
2014]. Porque não tinha indício de uma coisa dessa envergadura. A gente vê
pelos dados. Setembro, outubro, novembro. Nós levamos muitos sustos. Nós não
imaginávamos. Primeiro, que teria uma queda da arrecadação tão profunda.
Ninguém imaginava isso. (...) Gasto público. Talvez o meu erro foi não ter
percebido prematuramente que a situação seria tão ruim como se descreveu. A
crise começa em agosto, mas só vai ficar grave mesmo entre novembro e dezembro.
É quando todos os estados percebem que a arrecadação caiu” – essas são as
palavras de Dilma, nas quais só alguém muito ingênuo teria como acreditar.
Em primeiro lugar, porque a crise
só existe graças às próprias ações do
governo Dilma, que durante quatro anos abandonou completamente o tripé
macroeconômico da era Fernando Henrique para adotar a “nova matriz econômica”
baseada na gastança. Impossível que o governo não soubesse que, ao bagunçar o
setor elétrico com redução de tarifas na base da canetada e, com propósitos
eleitoreiros, segurar artificialmente o preço da gasolina e dos transportes
públicos (em combinação com prefeitos aliados), estava preparando uma bomba
inflacionária que explodiria muito em breve.
Bem antes de 2014 o
governo federal já estava recorrendo à “criatividade contábil” para fechar as
contas. As metas de superávit primário só eram alcançadas graças a rendas
extraordinárias como o Refis e leilões nas áreas de petróleo e
telecomunicações. A necessidade de contar com maquiagens e recursos atípicos já
era indício mais que suficiente de que algo estava errado. Em agosto de 2014, o
governo também já sabia que a produção industrial estava em queda: de março
daquele ano em diante, a produção nunca foi maior que a do mesmo mês do ano
anterior.
E, como se não bastasse,
avisos externos não faltaram. Os adversários de Dilma Rousseff na campanha da
reeleição cansaram de bater na tecla da crise iminente. Agosto de 2014 nem
tinha chegado ainda e Lula já tinha publicamente pedido (e recebido) a cabeça
dos responsáveis por um relatório do banco Santander que apontava para a
deterioração de indicadores em caso de vitória de Dilma; em julho de 2014 a
coligação da presidente processou a consultoria Empiricus, que fez alertas
semelhantes (O TSE reverteu a tentativa de censura). Tudo isso foi desprezado
por Dilma como “terrorismo eleitoral”.
Será mesmo possível que uma economista de profissão, com fama de
gestora eficiente no governo Lula, diante de todos os indícios estatísticos e
avisos de que a tempestade já estava formada e chegaria logo, pudesse ser
surpreendida pela realidade dessa forma? O mea
culpa de Dilma, uma presidente desesperada para
recuperar a popularidade, se não for simplesmente uma tentativa de iludir a
população, é um enorme atestado de incompetência.
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