É mole?
Eliane
Cantanhêde
08 Julho 2015
É inacreditável, do ponto de vista
político, de marketing e até de resultados, que o governo admita um “clima de
impeachment” e a presidente Dilma Rousseff saia por aí dizendo que “não vai
cair”, “vai lutar com unhas e dentes pelo mandato” e toda essa imensa crise “é
moleza, é luta política”. Na sociedade, universo em que Dilma tem míseros 9% de
aprovação, isso soa assim: Ih! A presidente está caindo!
Além de temerárias, as falas de Dilma
têm um certo tom de deboche totalmente inadequado. Afinal, não é por causa do
PSDB, nem da mídia, nem “dazelite” que Dilma está acossada, simultaneamente,
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo Tribunal de Contas da União (TCU),
pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, pelo Congresso, pelo PMDB, pelo PT
e pelo próprio patrono Lula. Sem falar na economia, que continua indo para o
buraco, arrastando junto emprego, renda e o que resta de confiança em Dilma.
Tudo isso é “moleza”? Só “luta política”?
No PSDB, há intensas discussões e
nenhuma conclusão sobre o que fazer. Com três candidatos potenciais, há três
estratégias diferentes – e conflitantes. Elas se neutralizam, enquanto
proliferam versões. Aécio Neves seria o nome do PSDB, Geraldo Alckmin estaria
se articulando com o PSB (que ficou sem pai, Eduardo Campos, nem mãe, Marina
Silva) e José Serra, com o PMDB (que não quer mais ouvir falar de PT). Em vez
de aliados contra Dilma, os principais tucanos são adversários entre si.
Aécio tem vários trunfos: a
presidência do partido, o fato de ter sido o único candidato a unir os tucanos,
o “recall” de eleições ainda frescas e, principalmente, a liderança nas
pesquisas, à frente até do antes imbatível Lula. Como tem dito Aécio, o melhor
horizonte é Dilma fraca, perdida, até concluir o mandato. Mas, se Dilma cair
por força do TSE, ele pode ser o beneficiário direto e imediato.
Alckmin tem o governo mais rico e de
maior visibilidade do País, o de São Paulo, Estado que é o epicentro da
oposição a Dilma, a Lula e ao PT e onde está a maior força do PSDB. Ele despiu
a fantasia de “picolé de chuchu” no ataque ao governo na convenção de domingo,
numa disputa de liderança, não uma efetiva pressão pela queda de Dilma. O que
Alckmin ganharia com a abreviação do mandato dela? Nada.
Serra, recolocado na lista pelas
circunstâncias políticas e econômicas, consolida suas pontes com PMDB e também
com PSD, PTB, PPS e DEM, sem deixar de cultivar interlocutores no próprio PT.
Nenhum desses morre de amores por Aécio, mas todos têm abertura, em menor ou
maior grau, para Serra, que assumiu a dianteira da pauta parlamentar. É autor
de projetos de mudança no sistema de partilha na exploração do pré-sal; de
ampliação da PEC da Bengala para todo o funcionalismo; e de flexibilização do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), como contraponto à redução da idade
penal.
Ele está muito atrás de Aécio e Alckmin
no PSDB, mas pode virar o jogo com o PMDB e tem duas alternativas: uma já,
outra em 2018. Se for o TCU a empurrar Dilma para crime de responsabilidade,
Serra poderá ser um dos avalistas da transição a la Itamar Franco, com Michel
Temer. Se a presidente “não cair”, como ela própria alardeia, sempre sobrará
para Serra o sonho de uma equação inversa, com o apoio de Temer e do PMDB em
2018.
Por mais que Planalto, PT e seus
aliados de dentro e fora do Congresso unifiquem o discurso de que há “um
golpe”, essas são manifestações legítimas de oposição, quando quem tenta
empurrar Dilma para fora do tabuleiro são o desemprego em alta, a renda em
baixa, as denúncias da Petrobrás, o descontrole político e parte dos
aliados.
A oposição não pode se fazer de cega,
surda e muda, correndo o risco de ser pega de calças curtas. Se o PSDB é
golpista, todo mundo é, porque o que mais se faz em Brasília hoje é analisar as
circunstâncias e o que determina a Constituição. Isso não é “moleza” nem
“golpe”, mas, pura e simplesmente, a realidade.
Publicado no Jornal O Estado de São Paulo
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