segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Crônica

Por que sobrevivi apenas 12 horas no Facebook

*Cesar Cabral

Se eu colocasse todos os motivos para não ter Facebook, e são muitos, em ordem  numérica, o primeiro lugar seria: sou um homem analógico vivendo num mundo virtual.
Eu não me adaptei a tantas, tão novas e a quantidade de inovações e atualizações frenéticas. Não consigo nem perceber o que difere uma coisa outra e o significado da tal atualização. Mal e mal consigo usar o Word, escrever e ler e-mails, colar, arrastar e copiar textos e buscar sites interessantes na internete porque o Deus Google me atende quando digito apenas uma palavra e ele me dá muitas opções de escolha. Às vezes até com certo exagero.
Dia desses "digitei" a palavra bomba e ele me ofereceu 56.800.000 resultados em 0,16 segundos. Não consigo nem beber um copo com água nesse tempo!
Todavia devido a "pressões" familiares resolvi, com a ajuda da minha filha  Cecília, "fazer" um Facebook. Quando me chamaram de internauta senti um pavor cósmico espacial e marítimo conjugado, difícil de descrever. Qualquer coisa como sendo um piloto solitário a vagar pelo espaço sideral ou um jovem marinheiro português a entrar no Mar Tenebroso de Adamastor, o Monstrengo.
Não estou criticando quem tem Facebook porque seria como se eu fosse um grão de areia em todo o deserto do Saara a reclamar da chuva que não vem. E já que eu já faço parte de tentas minorias e de grupos de pessoas politicamente incorretas certamente não farei nenhuma diferença e nem minha ausência será percebida pelo Mark Zuckerberg.
Não estou bem certo, mas acho que reconheço a importância de ter e o bom uso que a maioria das pessoas fazem desse website. Surpreso, não imaginava que tanta gente soubesse tudo de todo mundo e ainda  “compartilhassem” esquisitices como bênçãos, mensagens de solidariedades, avisos e  advertências, em geral inúteis com jeitão de coisa séria. Afora íntimas particularidades e  até mesmo partes intimas muitas delas que melhor ficariam se fossem particularmente  escondidas.
Pasmado li que também milhões de pessoas, só posso imaginar esse número grandão, xingasse outro tanto de milhão. Um verdadeiro apedrejamento informático. Vi milhares de fotografias sem nenhum sentido para além dos fotografados e uns ou outros conhecidos; discussões – também chamadas “fóruns” - de assuntos insignificantes com opiniões estapafúrdias, textos mal escritos; individualidades expostas, como quem mostra o que não deve quando muito se abaixa; privacidades publicitadas à quem não interessa;baciadas de amigos de amigos, e de outros amigos daqueles amigos;borbotões de “postagens” que se fossem juntadas formariam sesmarias de campos de grandes pastagens (postagem sempre leva a pensar em pastagem.).
Li também mensagens sem conteúdo aproveitável e sintaxe extravagante em tal quantidade que, muitas delas, me pareceram mensagens vindas do Oeste de Plutão, tornando-se uma mortal ameaça aos novos e carismáticos padres, pastores e gentios do século XXI com suas escrevinhanças de autoajuda.
Por falta de tempo e paciência para procurar e contratar um “assessor de imprensa” para ficar “logado” (que palavra!) atento e alerta, ao meu Facebook desisti; abdiquei de vez.
Não sei como alguém consegue acompanhar a enxurrada de “posts”. Em poucos minutos extraviaram-se centenas deles; a fila andou e eu perdi o lugar. E me perdi no meio daquele povaréu. Gente que nunca vi e não entendi por que estavam ali. Doze horas depois,antes que um malware entrasse em minha cabeça e roubasse alguns dados secretos, ou travasse de vez o pouco que sai dela, me "deletei" do Facebook.
Vulpino Argento, o Demente, que me aborrece quando me chama de Divino Mestre, assim que soube que abdiquei o Facebook em favor de minha sanidade mental, veio em meu socorro.
_ Divino Mestre, minha santidade deveria saber que é assim que funciona a cibernética.
- Que cibernética Vúlpi? – esse é um tratamento carinhoso.
- O Face! – exclamou com intimidade, sem saber do que estava falando o energúmeno.
Pacientemente tentei explicar o que é a cibernética e o que é o Facebook.
- Divino mestre, repetiu com as mãos postas sob o lado esquerdo do peito, às vezes é preciso andar por caminhos errados para encontrar a coisa certa! Quando tudo nos parece dar errado, acontecem coisas boas, que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo.
- Com um olhar pio, o mais piedoso que jamais fiz, olhei no fundo dos olhos dele e percebi que Vulpino Argento, o Demente, já estava contaminado.

*Jornalista e Escritor

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