Militância vira critério para receber moradia
Onze das 12 entidades com projetos
aprovados pelo Ministério das Cidades são dirigidas por filiados ao PT; quem
marca presença em protestos e até ocupações ganha prioridade na fila da casa
própria em São Paulo.
Líderes comunitários filiados ao PT usam
critérios políticos para gerir a maior parte dos R$ 238,2 milhões repassados
pelo programa Minha Casa Minha Vida Entidades para a construção de casas
populares na capital. Onze das 12 entidades que tiveram projetos aprovados pelo
Ministério das Cidades são dirigidas por filiados ao partido. Suas associações
privilegiam quem participa de atos e manifestações de sem-teto ao distribuir
moradias, em vez de priorizar a renda na escolha. Entre gestores dos recursos,
há funcionários da gestão de Fernando Haddad (PT), candidatos a cargos públicos
pela sigla e até uma militante morta há dois anos.
A partir de repasses diretos, as associações
selecionadas pelo governo federal escolhem quem vai sair da fila da habitação
em São Paulo. Os critérios não seguem apenas padrões de renda, mas de
participação política. Quem marca presença em eventos públicos, como protestos
e até ocupações, soma pontos e tem mais chance de receber a casa própria.
A força política dos movimentos de moradia, que
só neste ano comandaram mais de 50 invasões na cidade, pressionam não só o
governo federal, mas a Prefeitura. Em agosto, Haddad publicou um decreto no
qual se comprometeu a permitir que entidades possam indicar parte das famílias
que serão contempladas com moradias em sua gestão. A promessa de campanha é
entregar 55 mil até 2016 – as lideranças querem opinar sobre 20 mil desse
pacote.
Quem é quem. A maior
parte das entidades é comandada por lideranças do PT com histórico de mais 20
anos de atuação na causa. É o caso de Vera Eunice Rodrigues, que ganhou cargo
comissionado na Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) após receber
20.190 votos nas últimas eleições para vereador pelo partido.
Verinha, como é conhecida, era
presidente da Associação dos Trabalhadores Sem Teto da Zona Noroeste até março
deste ano – em seu lugar entrou o também petista José de Abraão. A entidade
soma 7 mil sócios e teve aval do Ministério das Cidades para comandar um
repasse de R$ 21,8 milhões. A verba será usada para construir um dos três lotes
do Conjunto Habitacional Alexius Jafet, que terá 1.104 unidades na zona norte.
No ano passado, Verinha esteve
à frente de invasões ocorridas em outubro em prédios da região central, ainda
durante a gestão de Gilberto Kassab (PSD), e em pleno período eleitoral. Em
abril, foi para o governo Haddad, com salário de R$ 5.516,55. A Prefeitura
afirma que ela está desvinculada do movimento e foi indicada por causa de sua
experiência no setor. (Estadão/conteúdo)
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