A incrível farsa
protagonizada na quarta-feira pelo PT em nome de seu chefão Lula da Silva,
registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como candidato do partido à
Presidência a despeito do fato incontestável de que ele é inelegível, teve um
único objetivo: transformar o Judiciário em palanque petista.
Seguindo a estratégia
desenhada pelo ex-presidente em sua cela em Curitiba, onde cumpre pena por
corrupção e lavagem de dinheiro, os petistas parecem acreditar que qualquer
desfecho jurídico a respeito da candidatura de Lula lhes será benéfico. Na
remotíssima hipótese de que a Justiça Eleitoral dê sinal verde à candidatura,
Lula chegará como favorito à disputa; no entanto, se sua candidatura for
impugnada, o que é bem mais provável, Lula e sua claque denunciarão a decisão
como prova cabal de que o ex-presidente é um “perseguido político” – e é isso,
e apenas isso, o que alimentará a campanha petista.
Transformar seu
encalacrado líder em vítima de uma trama jurídico-midiática foi o que restou a
um partido que, de bastião da ética na política, se tornou símbolo da corrupção
nacional e que, de promessa de inovação e de modernidade administrativa, passou
à História como a agremiação que deu ao País seu pior governo de todos os
tempos, o de Dilma Rousseff, felizmente afastada antes que completasse sua
“obra”.
O problema é que a
estratégia petista está indo de vento em popa. Na campanha eleitoral, pouca
gente parece se lembrar que a crise política, econômica e moral que o País
atravessa foi produzida pelos governos de Lula e de Dilma. Formou-se um
consenso tácito entre quase todos os principais concorrentes que o nome a ser
evitado na campanha é o do atual presidente, Michel Temer, que hoje sintetiza,
para a esmagadora maioria da opinião pública, o que há de pior na política –
malgrado o fato de que herdou de Dilma um país em frangalhos e entregará ao
sucessor uma administração razoavelmente saneada. Enquanto isso, a
ex-presidente Dilma, a despeito de seu imenso passivo, aparece com bom
desempenho na corrida ao Senado por Minas Gerais e o ex-presidente Lula, mesmo
tendo sido o inventor desse desastre chamado Dilma, mesmo tendo sido o
presidente sob cujo governo estouraram os maiores escândalos de corrupção da
História nacional e mesmo sendo ele próprio um condenado por corrupção, surge
como líder em todas as pesquisas de intenção de voto.
Os dois casos tripudiam da
democracia e das instituições: Dilma só está concorrendo porque, a despeito de
ter sofrido impeachment, manteve seus direitos políticos graças a uma incrível
cabala de um ministro do Supremo Tribunal Federal com o presidente do Senado; e
Lula, um presidiário com longa pena ainda a cumprir, faz troça do Judiciário e
desafia os tribunais a mantê-lo preso e impedir que o povo seja “feliz de
novo”.
O escárnio lulopetista
atingiu seu estado da arte quando, ao registrar Lula como seu candidato, o PT
anexou à documentação uma certidão de antecedentes na qual não consta sua
pública e notória condenação. Ele seria, então, um “ficha limpa”. Os petistas
não apenas sabem que essa manobra será desconsiderada pela Justiça Eleitoral,
como é isso justamente o que eles querem, pois qualquer decisão judicial que
lhes seja contrária servirá para reforçar sua denúncia de “perseguição
política” contra Lula – o grande mote da campanha eleitoral do partido. “Estão
querendo impedir que um dos maiores estadistas vivos do mundo concorra à
Presidência”, tuitou Fernando Haddad, sempre no papel de poste, como prefeito
e, agora, como provável candidato do PT à Presidência, dando o tom da fraude.
Com esse espírito, Lula
transformou sua cela em comitê eleitoral, incluiu vários dirigentes petistas
entre seus advogados e elegeu os juízes como seus adversários políticos. Para o
ex-presidente, quanto mais tempo demorar a decisão judicial sobre sua candidatura,
melhor, pois é nos tribunais que ele escolheu fazer sua campanha.
Diante desse desaforado
repto lulopetista, o Judiciário deve simplesmente fazer prevalecer a lei e
resguardar o interesse da coletividade, garantindo que a eleição presidencial ocorra
sem o tumulto que só interessa aos que não têm o mínimo respeito pela
democracia.
Portal Estadão, em
17/08/2018
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