Foto: Agência Globo/Reprodução |
Em conversa com aliados do
seu círculo pessoal, no Palácio da Alvorada, na tarde de domingo, o presidente
Michel Temer confirmou que não
irá disputar as eleições de
outubro. Reunido com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles e com dois de
seus auxiliares mais próximos, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o
ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, o presidente deixou claro que
pretende sair de cena como candidato e deu sinais de que irá atuar nos
bastidores pela candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.
Desde que anunciou o desejo de disputar a reeleição,
Temer experimentou o avanço do noticiário policial — ele responde a dois
inquéritos no STF — sobre seu grupo político e familiar. Também enfrentou
resistências dentro do seu próprio partido, preocupado com os prejuízos
financeiros de uma campanha presidencial centrada na sua reeleição. Para
auxiliares do presidente, a escalada de notícias negativas e a devassa no
passado de Temer tenderiam a piorar muito durante a campanha, o que deixaria o
presidente sob constante tiroteio dos candidatos.
— Imagine como seria a cobertura da imprensa de um
presidente candidato, com todos os repórteres que já cobrem o Planalto indo a
todo evento dele? O Michel não teria um segundo de paz. E tudo que ele precisa
agora é tocar o governo e deixar de ser alvo — diz ao GLOBO um auxiliar direto
de Temer.
Além de ter sido aconselhado a sair dos holofotes
eleitorais, Temer decidiu trabalhar pela construção da candidatura de Meirelles
por considerar o ex-ministro o único que poderá fazer a defesa do seu governo
durante a campanha. A recente aproximação com Geraldo Alckmin, na última
semana, manteve o diálogo aberto com o PSDB. Temer, no entanto, sabe que o
pré-candidato tucano jamais defenderia o governo na campanha — e tampouco
interessa ao PSDB atrair para sua candidatura a impopularidade do presidente.
Internamente, no PMDB, Temer também foi convencido das
resistências ao seu nome dentro dos diretórios regionais. Ao longo de três
jantares com lideranças peemedebistas nas últimas semanas, o clima entre os
líderes regionais era de angústia. Os dirigentes estaduais do PMDB apresentaram
uma série de dificuldades políticas ante a possibilidade de terem que sustentar
uma candidatura de Temer nos estados. Sem recursos próprios para bancar o
projeto, Temer teria de utilizar as verbas do seu partido, o que prejudicaria a
distribuição de dinheiro para campanhas de parlamentares e de governadores país
afora.
Os altos índices de impopularidade de Temer, que sequer
conseguiria frequentar locais públicos durante a campanha, também preocupavam
os peemedebistas. Diante desse cenário, o nome de Meirelles passou a ser visto
como solução pelo presidente.
Além de contar com recursos próprios para financiar sua
campanha, Meirelles atenderia ao objetivo pessoal de Temer, de contar com uma
candidatura que defenda seu governo durante a campanha. Dentro do PMDB, a
resistência ao nome do ex-ministro da Fazenda também seria infinitamente menor
que ao nome de Temer.
Primeiro, na avaliação dos peemedebistas, porque
Meirelles não tem a impopularidade do presidente, que poderia tirar votos em
palanques estaduais. Segundo porque o ex-ministro teria um legado positivo na
economia para defender.
— Para o nosso grupo no estado, a questão do Meirelles é
muito simples. Onde ele não atrapalha (busca pelo voto), ele ajuda. Onde ele
não ajuda, no caso da pesquisa, ele também não atrapalha — diz um peemedebista.
Dentro do MDB, os diretórios mais hostis ao projeto do
PMDB ter candidato são os grupos comandados pelo senador Renan Calheiros, em
Alagoas, e Roberto Requião, no Paraná. Esse dois diretórios e o grupo
peemedebista do Ceará, ligado ao presidente do Senado Eunício Oliveira, têm se
mantido distante em torno de Meirelles.
Nas últimas semanas, além de definir a equipe de
assessores que já atua na pré-campanha, Meirelles escolheu seu marqueteiro,
Chico Mendez, e contratou o serviço de um instituto de pesquisas especializado
em estudar o comportamento das camadas populares da sociedade.
O ex-ministro tem procurado construir sua base de apoio
no PMDB a partir de diretórios comandados por aliados ou com figuras simpáticas
a seu nome, como é o caso de Santa Catarina, Goiás e São Paulo, onde a
rivalidade com o PSDB de Geraldo Alckmin impede qualquer aproximação.
Em visita a Florianópolis há duas semanas, Henrique
Meirelles ouviu conselhos do deputado Mauro Mariani (MDB-SC) no sentido de
fazer mais aparições públicas e deixar a timidez de lado.
— Ele pode ser uma novidade. Pode atrair os que já apoiam
o presidente Temer e os que rejeitam o seu nome — disse o deputado.
Como Meirelles está disposto a bancar a própria campanha,
Mariani acha que este fato pode ser um “diferencial” para aglutinar forças no
partido por liberar os recursos para as campanhas de deputados.
Agência Globo
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