A testemunha disse que decidiu procurar a Polícia Federal para contar o que sabe porque está jurada de morte pelo miliciano Orlando
Oliveira de Araújo, que cumpre pena na Cadeia Pública Bandeira
Stampa, conhecida como Bangu 9. Segundo o delator, Orlando acredita que sua
prisão no ano passado, feita pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria
Segurança, pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco)
e pela Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), é resultado de uma denúncia
feita por ele. A testemunha contou que se afastou da milícia em setembro:
— Orlando foi preso um mês depois. Ele acha que a
denúncia foi minha. Não tive nada com isso.
O delator admitiu que instalava TV a cabo clandestina com
dois policiais militares na comunidade da Boiúna, em Jacarepaguá. Até que
Orlando assumiu todo o controle da favela há cerca de dois anos, obrigando a testemunha
a trabalhar para a quadrilha. Segundo ele, a milícia na Boiúna fatura R$ 30 mil
por mês com a exploração de “gatonet”, venda de gás e mototáxis.
— Em 2015, Orlando de Curicica matou um dos meus sócios e
me procurou. Deixou claro que eu poderia morrer também. Entreguei tudo para ele
e entrei para a quadrilha. Até acontecer um problema: pedi para sair, mas ele
não deixou. Passei, então, a ser uma espécie de segurança. A tarefa principal
era dirigir para o filho e a mulher dele.
Em 24 de abril, ele e o seu advogado foram à
Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá. Alegou que não confiava na
Polícia Civil. Quando o delator contou os detalhes por trás do crime de Marielle,
a PF decidiu acionar o delegado Rivaldo Barbosa, chefe da Polícia Civil.
No dia 30 de abril, com a garantia de que receberia
proteção, a testemunha prestou o primeiro depoimento ao delegado Giniton Lages,
da Divisão de Homicídios (DH), responsável pelas investigações do assassinato
de Marielle e do motorista Anderson Gomes.
Para manter o sigilo das investigações, a testemunha foi
ouvida no Círculo Militar, clube do Exército na Praia Vermelha. O depoimento de
oito horas foi acompanhado por delegados federais e agentes da inteligência da
Polícia Civil. No último sábado, acompanhado de seu advogado, o delator voltou
a depor por mais oito horas no mesmo lugar. Os policiais apresentaram
fotografias de suspeitos e buscaram informações sobre assassinatos nos quais
Orlando estaria envolvido. O terceiro depoimento aconteceu anteontem, desta
vez, na Divisão de Homicídios, na Barra.
Portal O Globo
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