Acordão pró-PSDB*
Seja Alckmin, seja Doria, nome tucano arrasta
DEM, PMDB e
maioria do Centrão
Eliane Cantanhêde
A eleição presidencial de 2018 começa a tomar corpo.
Aliás, a ganhar caras, vozes, partidos e ideologias e está embicando para um
acordão em torno do PSDB, que atrai o ascendente DEM, o paquiderme PMDB e parte
do Centrão. O problema é definir quem será o candidato e, desta vez, as
disputas internas são de vida ou morte – ou de ficar ou sair do partido.
Mesmo muito feridos pela Lava Jato, os tucanos ainda têm
ressonância, ou recall, em São Paulo, no Sul e no Centro-Oeste, pelo menos,
mais do que seus parceiros tradicionais ou potenciais. E tem dois nomes fortes:
Geraldo Alckmin e João Doria.
Alckmin pode se considerar “natural”, como governador do
principal Estado e o único ex-candidato a sobreviver (até agora) depois das
delações premiadas. Doria, por ter ousadia, estratégia, marketing e dinheiro
para sair por aí fazendo campanha de norte a sul.
Antes de se tornar de fato candidato do PSDB, Doria
precisa passar por cima do cadáver, ops!, das pretensões do seu padrinho
Alckmin e dos próprios adversários tucanos de Alckmin em São Paulo e fora de
São Paulo. Fernando Henrique, José Serra e Tasso Jereissati, por exemplo, têm
fortes resistências ao prefeito.
Parte inferior do formulário
Mas, seja Doria ou seja Alckmin, o nome do PSDB deve
atrair o DEM, cujo discurso e os novos líderes apontam para o futuro, e o PMDB,
que tem a Presidência da República, as maiores bancadas do Congresso e a maior
ramificação nacional, mas não tem um único nome para disputar em 2018.
Aliás, o PMDB já não tem nomes há tempos e ora oferecia o
vice aos tucanos (como Rita Camata para Serra), ora aos petistas (como Michel
Temer para Dilma Rousseff). Em 2018, essa opção deixa de existir. O PMDB,
definitivamente, não irá com o PT. Quem sobra? O PSDB. Quando Temer “abriu a
porta” para Doria entrar no PMDB, também estava abrindo para o PMDB entrar na
campanha de Doria.
O DEM, que joga para fortalecer seus quadros em 2018 e
disputar a Presidência em 2022, também não tem muita alternativa. Ficar a
reboque mais uma vez do PSDB, não, mas usar o PSDB como alavanca faz sentido.
E, convenhamos, os tucanos são melhor alavanca para o DEM do que as demais
forças políticas. PT? Rede? Bolsonaro?
Por falar nisso, o Centrão, que reúne vários partidos e
nenhum candidato, é outro que não tem muito para onde correr. Vai com o PSDB
por exclusão, apesar de ceder combatentes para a aventura Bolsonaro. Não para
vencer, mas sim por comunhão de ideias e pelo perfil de eleitores.
E na outra ponta, da esquerda? Que Doria tinha largado na
frente das viagens pelo País e na ocupação de terreno na internet, todo mundo
sabia. O que não se sabia – apesar de anunciado aqui em 25/4 – é que seu
antecessor Fernando Haddad também está se mexendo, e muito.
Para levar a legenda do PT, Haddad tem de torcer para
Lula ser soterrado pelos seus seis inquéritos, com uma condenação, e para Ciro
Gomes parar de sonhar com a bênção de Lula. Entre seu pupilo Haddad e o
multipartidário Ciro, com quem vocês acham que Lula fica?
É assim que, se o tabuleiro de 2018 estava vazio, as
peças começaram a se colocar e a se mexer freneticamente. Lula retomou a
“caravana da cidadania”, de ônibus, pelo Nordeste. Doria cruza os ares com
avião próprio. Alckmin corre atrás do prejuízo. Marina sai da toca. Ciro Gomes
mete a cara. Bolsonaro faz a festa em palanques improvisados. E Haddad se move
como gato, sem fazer ruído.
Sempre podem aparecer novos nomes, ou um grande nome,
inesperadamente. Mas, a um ano e dois meses da eleição, e diante da percepção
de que Temer conclui o mandato, o processo está afunilando para esses nomes já
colocados. É em torno deles que o mundo político se move. E é bom o senhor e a
senhora começarem a fazer suas apostas.
*Publicado no Portal Estadão em 15/08/2017
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