Saída negociada
Diretor-geral da PF entrou no cargo no início do governo
Dilma
e já viu seis ministros passarem pelo ministério da Justiça
Eliane Cantanhêde
A troca do diretor-geral da Polícia Federal nunca é
simples, mas se tornou particularmente delicada com o avanço da Lava Jato sobre
o Executivo e o Legislativo e a gritaria, dia sim e outro também, sobre
supostos golpes contra a maior operação de combate à corrupção da história. Foi
assim que Leandro Daiello foi se tornando “imexível”, mas ele pode estar se
cansando.
Daiello assumiu a direção-geral em janeiro de 2011, no
início do governo Dilma Rousseff, foi mantido no de Michel Temer e já está no
sexto ministro da Justiça. Desde a Olimpíada do Rio, em agosto de 2016, ele já
pediu para sair pelo menos três vezes, mas um ministro atrás do outro recusa a
demissão.
Agora, ele estaria sendo irredutível, mas acertando
algumas condições. As duas principais delas seriam: escolher o sucessor junto
com o ministro da Justiça, Torquato Jardim, e ele próprio anunciar o escolhido
à opinião pública. Isso seria importante para Daiello, como demonstração de
prestígio e de liderança na “tropa”, e também para o governo, como forma de
esvaziar ataques.
O mais temido deles seria a acusação, ou mesmo suspeita,
de que a troca no comando da PF faria parte de uma grande manobra para esvaziar
a Lava Jato e reduzir o papel da Federal nas investigações e operações
especiais. O outro, uma consequência direta disso: a tentativa, equivocada,
diga-se, de se juntar num mesmo saco a troca na PF e a nomeação de Raquel Dodge
para a Procuradoria-Geral da República como parte dessa “manobra”.
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Enquanto não há decisão, nem previsão de data, Daiello e
Jardim vão acertando medidas para a PF, inclusive um processo de modernização
tecnológica e um novo software conjunto de órgãos da Justiça, abrangendo a
Federal. Outra medida seria a realização de concursos e a oferta de treinamento
internacional para novos quadros da PF.
Há conversas, também, para retirar da PF a atribuição de
emitir passaportes em 192 postos espalhados pelo País inteiro, o que não passa
de mera burocracia e ocupa agentes que poderiam ser muito mais úteis em
operações de campo, ou na inteligência, ou em outras funções diretamente
vinculadas a ações policiais. Só se fala na Lava Jato, mas, neste exato
momento, a PF tem 473 operações especiais a pedido da Justiça Federal.
As relações entre Daiello e Jardim, ou entre PF e
Justiça, parece caminhar, portanto, dentro da normalidade e dos limites
institucionais. Aliás, como o diretor-geral manteve com os ministros
anteriores, desde que nomeado na gestão de José Eduardo Cardozo, no primeiro mandato
de Dilma Rousseff. Apesar disso, a Polícia Federal nunca deixou de fazer tudo o
que tinha de fazer e de tocar as operações da Lava Jato com autonomia. “Doa a
quem doer”, como se diz na corporação. Que assim continue...
Geddel. Preso ontem por tentar evitar a delação
premiada de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, Geddel Vieira Lima é envolvido em
falcatruas numa vice-presidência da CEF no governo Dilma, mas, politica e
midiaticamente, o que vale é que ele é do “PMDB da Câmara”, grupo político de
Temer, e foi ministro no atual governo com assento no Planalto. Depois de
Henrique Alves, Eduardo Cunha, Rocha Loures e Tadeu Filippelli, é mais um a
piorar a imagem de Temer e mais uma ameaça de delação. Sem contar quem ainda
não foi preso...
Goiás. A nova PGR, Raquel Dodge, é de Morrinhos. A
presidente do STJ, Laurita Vaz, é de Trindade. O ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, é de Anápolis. E, do outro lado, estão os irmãos Joesley e Wesley
Batista, da JBS, que são de Formosa e investiram em Anápolis. Goiás no centro
do País e da crise.
*Publicado no Portal Estadão em 04/07/2017
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