Temer e seu grupo conseguem contornar resistências na
CCJ,
mas a demora para que o pedido de licença seja votado no plenário
funciona
contra o presidente
Frustrou-se, assim, a ideia do Planalto de votá-lo a
toque de caixa. E, para justificar a derrota, forjou-se a “narrativa” de que
quem precisa obter o quórum é a oposição. Mas esta avisa que no dia 2 ficará à
espera da bancada da situação.
Na verdade, estava — e continua a estar — correta a
avaliação do governo de que, quanto mais o tempo passa, maior o risco de
desgaste do presidente.
Há munição de razoável poder destrutivo na PGR.
Considera-se, por exemplo, a possibilidade de Rodrigo Janot, procurador-geral
até setembro, ainda desfechar pelo menos mais uma denúncia contra Temer. Poderá
ser por obstrução da Justiça, comprovada por gestões junto a Josley Batista, do
grupo JBS, para comprar o silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, inquilinos
da Lava-Jato, nas carceragens de Curitiba.
O assunto é tratado de forma dissimulada na conversa com
Temer que o empresário gravou, em horas avançadas de uma noite de março, no
porão do Palácio do Jaburu, no qual Batista entrou dando nome falso e sem
mostrar documento de identificação.
Os fatos tendem a andar de forma mais lenta na Câmara, na
tramitação desta denúncia, a de corrupção. E deve vir por aí a delação premiada
de Lúcio Funaro, uma testemunha com potencial de ser tão perigosa quanto
Rodrigo Rocha Loures, deputado suplente pelo PMDB do Paraná.
Loures foi indicado pelo próprio Temer a Joesley
Bastista, para tratar de “tudo” com ele, representante seu de extrema confiança.
Logo depois, Loures foi filmado, em ruas de São Paulo, puxando às pressas a tal
maleta com R$ 500 mil. Os indícios são de que seriam para o presidente.
Já Funaro, operador financeiro das sombras de Eduardo
Cunha e de outros do PMDB — Temer? — já antecipou em conversas antes da delação
propriamente dita que entregava malas de dinheiro a Geddel Vieira, ex-ministro
de Temer, outro muito próximo do presidente.
Por sinal, na conversa que Joesley gravou com o
presidente, ele reclama que, com Geddel fora do governo e investigado pela
Lava-Jato, perdera um intermediário privilegiado para comunicar-se com Temer. O
presidente, então, indicou Loures.
O tempo não corre mesmo em favor do Planalto. Um
indicador pouco risonho para o governo foi a rodada de pressões e de
fisiologismo para trocar 13 deputados na CCJ, e conseguir derrubar o relatório
anti-Temer.
A oposição também não deverá conseguir colocar 342
deputados em plenário, em 2 de agosto. Diz, inclusive, que não deseja. Há,
então, o perigo de Temer continuar exposto às intempéries.
*Publicado no Portal O Globo em 15/07/2017
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